Professores Fora de Série: A vocação de ensinar
Foi no brincar durante a infância que a professora Vanda Rodrigues dos Santos, 47 anos, despertou para a vocação da docência. Ela e as três irmãs também professoras, tinham “a escolinha” dentre as brincadeiras de criança, o que mais tarde se transformou em profissão por amor e escolha.
“Ser professora para mim é vocação. A gente não tinha muitas opções, mas as que tinham eram opções boas, que era ensinar uma à outra a fazer as tarefas. Dividíamos o conhecimento. E com o passar do tempo eu fui me identificando. Acho gostoso esse processo de ensinar, de aprender. Essa troca de experiências é algo fundamental para as nossas vidas”, declara a professora.
Com uma trajetória marcante, de cerca de 20 anos na educação, a professora Vanda se dedica a ensinar para além das quatro paredes da sala de aula. Algo que aprendeu exercendo o magistério em assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), onde lecionou por 6 anos, no município de São João do Araguaia. Também foi ensinando no assentamento 1º de março que a professora se aperfeiçoou com o estudo da Pedagogia. Formou-se na Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio do PRONERA (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária), em 2005, em período intervalar.
“Foram experiências fantásticas, diferentes das que vivo hoje, maravilhosas. De dar aulas para além da escola, porque é assim que o movimento trabalha. Dar aulas em acampamento, em frente ao INCRA, de dar aulas em determinado momento onde as famílias precisavam ocupar. Fazer a escola acontecer”, explica a docente.
Vanda relata ainda sobre as experiências no estado vizinho, o Maranhão, quando precisou seguir o marido por conta do trabalho. Lá ela desenvolveu a pedagogia na área da coordenação, por 4 anos, em dois municípios. Ao retornar para Marabá, em 2010, prestou concurso público com êxito.
“Eu consigo ficar bem completa no ser professora. É algo que eu faço que me preenche. Não me vejo não sendo professora. Segundo Paulo Freire, há saberes bons, há saberes ruins, há saberes mais, há saberes poucos, mas há aquele saber que é diferente. Então, para mim ser diferente e ver o outro diferente, é fundamental. Me realizo muito com os meus alunos, faço o impossível, gosto de estar com eles, é algo que me preparo para ficar todo o tempo dentro da sala de aula fazendo esse processo. Claro que isso não tira minhas outras funções, mas ser educadora é algo que eu faço com muito prazer”, enfatiza Vanda.
A docente que ainda se lembra do ensino tradicional na sua caminhada como estudante, disse que busca manter firme a referência de uma boa professora para os seus alunos, rompendo as marcas do passado e demonstrando na prática os prazeres do ensinar e do aprender. Inspirada em uma de suas professoras da educação básica, que mostrou ser possível ensinar para além dos livros didáticos, ela busca fazer a diferença, com o que tem ao seu alcance, na vida dos alunos.
“Esse ano estou no desafio de ensinar no 5º ano e que desafio! Entre o governo federal e o município, todos, em torno de um IDEB [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], de uma média, que classifica o aluno na escola, no aprendizado. É uma somatória de todos os anos e o 5º ano tem essa obrigatoriedade de fazer o melhor. De sobressair. De fato, afirmar que a educação pública, sobretudo a Educação de Marabá, sobretudo a educação da Francisco Souza Ramos está cumprindo com o seu dever de ensinar” pontua.
Sobre o futuro, a professora Vanda faz planos grandiosos, sonhos que pretende realizar em breve. Até encerrar a profissão, em sala de aula, almeja conquistar o doutorado.
“Eu tento ser aquela professora que faz a diferença. Eu sinto saudades dos meninos, eles sentem saudade de mim. Nesse período que nós estamos eu quero me tranquilizar com o que está acontecendo. Não adoecer de forma nenhuma porque eu preciso me preparar para o que vem. Penso muito na minha aposentadoria no futuro e de poder transmitir esse conhecimento para os meus filhos. Penso muito nos meus alunos que estão aqui, que falam para mim que querem ser professora porque eu sou professora, então isso é algo significante, isso me marca bastante. Sonho com o meu mestrado, sonho com meu doutorado. Me vejo aposentada como doutora em educação”, ressalta.
Para essa professora, mães de três filhos, e uma neta, a educação jamais estará desvinculada de sua vida. “Dentro da minha casa sempre vai acontecer a educação, na presença dos meus filhos, meus netos e de toda a família. Pra mim é algo que está presente. Pretendo contar toda esta história para os meus netos. Só fazemos educação com o outro. É impossível fazer educação sozinha. Sou o que eu sou, porque tive pessoas que me permitiram a confiança: do ensinar e também a aprender”, conclui a professora Vanda.
Ex-aluno da professora
Daniel Sousa Ribeiro, 35 anos, foi aluno da professora Vanda, aos 12 anos, quando estava no processo de alfabetização. O então menino, que morava com o pai em um assentamento, encontrou na professora um afeto que até hoje guarda consigo. Atualmente, Daniel é balconista em uma farmácia e descreve com detalhes as características da professora que lhe ensinou as letras.
“Eu me identifiquei com a professora Vanda pelo fato dela ser muito dedicada, muito carinhosa e muito verdadeira. Ela trata a profissão dela com muita seriedade, com muito respeito aos alunos. Ela quando estava em sala de aula não estava apenas cumprindo um horário. Ela faz com amor, carinho e respeito. Me senti adotado pela tia Vanda”, completa o ex-aluno.
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Texto: Leydiane Silva
Fotos: Aline Nascimento