Professores fora de série: Amor e incentivo à leitura
O incentivo à leitura é uma das principais marcas da professora Marluce Cunha Rodovalho Caetano, de 57 anos. A professora que está passando pelo processo de aposentadoria, com 31 anos dedicados à educação, é conhecida em Marabá, pelo o amor aos livros e pelas contações de histórias, que criou raízes no município, inclusive pela performance do personagem Matinta Pereira.
Formada em Letras/ Inglês, a professora Marluce, juntamente com outros educadores, desenvolveu grandes projetos como o “100 ler não ficaremos”, o qual posteriormente inspirou outro projeto, o “Marabá Leitora”, implantado pela Secretaria Municipal de Educação (Semed) na formação de professores das salas de leitura. A professora destaca que a motivação da profissão está em poder ajudar no crescimento e conhecimento das pessoas.
“Essas crianças que recebemos em qualquer escola, já têm muitos NÃOS na vida. E o que o professor precisa oferecer? O SIM. Não é ensinar oração subordinada, substantiva, objetiva, direta. Às vezes é um olhar atento pra aquela criança que pode ter apanhado em casa, sofreu abuso, não recebeu um olhar. Que não comeu. É o colo que precisamos ter, e que hoje tá tão difícil de acontecer por essa mudança. Essa marca é mesmo de que nós precisamos prosseguir,” enfatiza Marluce.
A professora Marluce é mineira, filha de um caminhoneiro e uma doméstica, que desde cedo a incentivaram, principalmente, com o exemplo, a ter contatos com a leitura, tanto que escolheu o magistério como formação até se especializar em Letras, na Universidade de Uberaba (MG). Além do pai, Marluce acredita que o professor Décio de Bragança, dos tempos da adolescência, contribuiu para o interesse pelos estudos da Língua Portuguesa, a partir de um concurso de poesia.
“O professor percebeu que eu tinha muita dificuldade em Língua Portuguesa e ele quis despertar, ressaltar alguma coisa em mim que ele visse pra ele me elogiar. E ele fez um concurso de poesias. Eu tinha perdido recente a minha mãe [biológica], e eu tinha feito um poema lindo. Essa escola ficava próxima a um cemitério, e eu da janela da minha sala ficava olhando fazendo altos poemas, pensando que minha mãe estaria ali. Estava na 8ª serie, adolescente, […] comecei a fazer vários poemas e escolhi um dentre eles […] ele elogiou e ganhei o primeiro lugar. Eu queria fazer língua portuguesa pra eu melhorar” descreve a educadora.
A professora Marluce chegou a Marabá, no início da década de 1990, recém-casada para constituir moradia e família. Nesta cidade, criou os três filhos. Aqui iniciou carreira nas escolas Santa Terezinha, Alvorada e Monteiro Lobato ministrando aulas de Português, Redação, Literatura e outras disciplinas permitidas na época. Em 2003, prestou concurso público ao município, passando a atuar como formadora, na Casa e Biblioteca do Professor, mas também atuou em escolas como Cristo Rei. Além disso, foi professora no Ensino Médio na Escola Acy Barros. Foram 25 anos somente na sala de aula, mas atualmente coordena o programa Marabá Leitora no Departamento de Ensino Urbano de Marabá da Semed.
“A educação na verdade é o segundo lar do ser humano. A primeira é a família. Hoje estamos verificando que o segundo lar é o professor, o educador. É aquele que vai conduzir o restante do conhecimento daquela criança, daquele ser. Ele vai somar. Aquilo que a família iniciou, ele vai continuar. Ele abre horizontes na mente e na alma da criança. Assim como toda mãe, pai conduz o seu filho a uma vida digna, honesta, o professor também conduz o aluno a uma vida, a sabedoria, a caminhar reto”, filosofa a docente.
A cirurgiã-dentista Karla Caldas, 42 anos, criou uma relação de afeto e carinho com a professora Marluce que dura até os dia de hoje, quando ainda estudava, o que corresponde atualmente, o 7º ano. A tia Marluce, maneira como se refere à professora, acompanhou Karla até o ensino médio. “Ela foi nossa professora de português, mas trabalhava com a gente a parte artística, teatro, sempre foi muito criativa. Era carinhosa para corrigir. Sempre foi acima do tempo, não era tradicional. Tentava a cada instante inventar algo diferente para o aprendizado do aluno”, pontua a ex-aluna.
Para a jornalista e professora Emilly Coelho, Marluce Caetano se tornou referência em docência. O contato aconteceu no segundo ano do ensino médio, o suficiente para contagiar Emilly, que é formada em Letras pela Universidade Federal do Pará e mestranda na mesma instituição.
“Eu consigo lembrar-me de um projeto chamado “Ciranda da Leitura” que ela fazia com alunos. Me marcou e eu repliquei anos depois de formada com meus alunos. Pegávamos livros na biblioteca, relatávamos as histórias e fazíamos fichas de leitura. Naquele tempo a carga horária pra mim era insuficiente de tão prazerosas que eram as aulas. Eu ansiava para ver a professora. Ela fazia aquele tripé: pesquisa, ensino e extensão (com vistas nas universidades). Ela de fato, saia das quatro paredes”, enaltece a jornalista.
Com tantas contribuições à educação do município, a professora Marluce diz que não pretende deixar a educação. Pensa em atuar no ensino superior, já que dedicou maior parte de sua vida à educação básica. Mas já ensaia como será a despedida.
“Devagarinho, não deixando de ir totalmente. Quero ir contar histórias. Quero ir dizer pra continuarem. Prossigam ou vamos de mãos dadas, quer dizer: estou junto de vocês. Eu quero ver vocês galgando algo superior, melhor do que tempos atrás. Vou continuar meu projeto, porque quando a gente conta história, você está conduzindo crianças, alimentando almas. Alimentando mentes. Dando oportunidades de criar, de sonhar. Agora mais do que nunca, professor vai ter vez e lugar na vida de uma criança”, conclui Marluce.
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Aline Nascimento