Projeto Quelônios: Rio Tocantins recebe mais de dois mil filhotes de tartarugas e tracajás
A manhã deste domingo, (04), foi uma verdadeira aula de ecologia, com a soltura comemorativa de mais de 2 mil filhotes de tartarugas e tracajás na Ilha do Tucunaré, às margens do Rio Tocantins. A ação foi realizada pelo Projeto Quelônios, uma parceria da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), Núcleo de Educação Ambiental (Neam) da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), e Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam).
Diversas pessoas, entre voluntários do projeto, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e demais organizações e órgãos de defesa do meio ambiente, assim como muitas famílias, fizeram a travessia de barco e participaram desse momento tão especial.
Carla Assunção é natural de Belém, mas mora há alguns anos em Marabá. Ela, que conheceu o projeto por meio de um amigo, gostou bastante da iniciativa. A dona de casa aproveitou para ir com a família e apresentar para as filhas, Maitê e Naomi, de 7 e 5 anos, a importância do cuidado com a natureza.
“Eu achei lindo o projeto. Eu acho muito pertinente elas [as filhas] estarem envolvidas com isso, com a cidade. Até planejo divulgar e me interessei até para me voluntariar, eu, minhas filhas e meu esposo também”, ressalta.
Ricielly Cajueiro trabalha com vendas e também aproveitou a oportunidade para envolver o filho José, de 5 anos, em uma atividade de contato com a natureza, já que as crianças tiveram prioridade na hora da soltura, que foi distribuída em bacias, viradas pelos pequenos, para que os filhotes fossem em direção ao Rio Tocantins.
“É um projeto que hoje, no meio ambiente, é muito importante, das tartarugas, dos tracajás, que estão fazendo nesse local. É muito importante para o meio ambiente. Trouxe a família, meu filho para conhecer, já desde criança, que é bom que ele já vai crescendo com esse projeto e, quem sabe, ele gostar do projeto e continuar”, destaca.
O Projeto Quelônios iniciou em 2017 e tem como objetivo promover a preservação de répteis portadores de carapaças – que são os quelônios – como tartarugas e tracajás, presentes nos rios da região de Marabá. A atuação do projeto é importante porque ajuda na preservação desses animais na natureza, que estão em perigo de extinção.
Nesses sete anos de projeto, mais de 145 mil filhotes já foram soltos nos rios da região. Só neste ano, são 16 mil filhotes de tartarugas e 5 mil de tracajás.
Avelino Oliveira é voluntário do projeto e está no 7º semestre do curso de medicina veterinária. Ele soube da iniciativa por meio do Instagram e resolveu fazer parte. Para ele, o projeto é imprescindível por levar adiante uma mensagem de preservação da natureza.
“Passamos por todo o processo de manejo, que inicia na coleta, vai nas praias, como aqui no Tucunaré mesmo, quanto nas outras, vê os sinais da fêmea. A gente faz a coleta, traz para cá, faz a parte da incubação e depois vem a parte de marcação dos cascos dos quelônios e, hoje, a gente fica na parte da soltura. A importância do projeto é a preservação, que é uma coisa que a gente não tinha tanto em Marabá”, comenta.
O projeto inicia as atividades por volta de junho, quando a equipe de campo sai pelas praias para fazer o levantamento dos sinais do processo de desova. A partir desse levantamento, é realizada a coleta dos ovos desde o final do mês de julho até o início de dezembro, seguindo protocolos para o armazenamento e depois para a incubação, quando esses ovos seguem para uma área reservada perto da base do projeto. Os ovos de tracajá podem eclodir em mais ou menos 65 dias, enquanto os de tartaruga demoram cerca de 45 dias. Após a eclosão, os filhotes são transferidos para tanques de quarentena, quando é esperado o tempo necessário para realizar a soltura.
Segundo o professor e pesquisador da Unifesspa, que coordena o Projeto Quelônios, José Pedro de Azevedo Martins, é o primeiro projeto de manejo desse tipo executado próximo a um grande contingente populacional, como o de Marabá, o que reforça a importância da missão de soltura dos filhotes.
“Significa a recuperação de uma população que, a nível nacional, é ameaçada de extinção e, pelo fato de a nossa região ser de intensa movimentação de desenvolvimento econômico e intensa modificação do ambiente, isso faz com que muitas populações de animais, e mesmo de plantas, sofram com isso e comecem a entrar em ameaça de extinção. É importantíssimo, nesse aspecto, de ecossistema, ecológico e ambiental, e no aspecto de turismo”, afirma.
A programação contou ainda com jogos educativos sobre o tema da preservação da biodiversidade, como quiz com curiosidades sobre os quelônios, dama, quebra-cabeça, pintura, além de canto da leitura e mural de fotografia.
O presidente do Comam, Jorge Bichara, analisa a importância da união de esforços em prol do projeto, que conta com apoio da Prefeitura de Marabá, por meio da Semma, que é a responsável por gerir, junto ao conselho, o Fundo Municipal do Meio Ambiente, financiador do Projeto Quelônios.
“Hoje, com o apoio da prefeitura e de praticamente todos os órgãos da prefeitura, e o Conselho Municipal de Meio Ambiente, a gente tem um recurso e o apoio institucional da prefeitura. Sozinhos, nós não conseguimos fazer nada”, avalia.
O combate à predação ilegal dos quelônios é apenas um ponto dentro da agenda de preservação ambiental. Vale ressaltar que o futuro do ecossistema tem ganhado destaque nos últimos anos, já que o o desequilíbrio vivenciado afeta, em maior ou menor medida, cada ser vivo do planeta. Diante disso, a cacique Adilene Aikrepeiti, do povo Gavião, faz uma importante reflexão. Ela é da aldeia Airompokrejõkẽ, que fica na terra indígena Mãe Maria, e participou da soltura dos filhotes.
“É uma iniciativa boa e bonita porque o mundo tem que entender o quanto é importante a preservação da natureza, dos animais. Porque, para nós, povos indígenas, a natureza é como se fosse a nossa mãe e os animais os nossos irmãos. Por que que a gente tem que continuar tendo esses eventos, essa preservação? Porque a nossa vida depende deles. Então, não é só para nós povos indígenas que a vida depende dos animais da floresta. O mundo todo tem que entender, o não-indígena tem que entender que a vida dele também depende da floresta, dos animais”, afirma.
A soltura de filhotes do Projeto Quelônios segue pelas próximas semanas, sempre nos locais onde os ovos foram recolhidos.
Confira outras fotos:
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Sara Lopes e Jordão Nunes