Saúde: Agentes comunitários de saúde são elo entre comunidade e postos de saúde
Jordania Reis é agente comunitária de saúde (ACS) há 14 anos. Durante todo esse tempo, trabalha na Unidade Básica de Saúde Hiroshi Matsuda, na Folha 11, núcleo Nova Marabá.
A profissional faz parte do contingente de 314 Agentes Comunitários de Saúde que atuam em Marabá. O trabalho de um agente é como se fosse a porta de entrada do cidadão aos serviços de atenção básica do Sistema Único de Saúde.
Em geral, esses agentes visitam e cadastram as pessoas no sistema das Unidades Básicas de Saúde atendendo principalmente idosos, hipertensos, diabéticos, gestantes e crianças menores de cinco anos, além de pessoas em tratamento de doenças como tuberculose e hanseníase.
A ACS Jordania faz em média oito visitas por dia, mas esse número pode variar de acordo com a demanda. Na equipe dela participam outros agentes, além de enfermeira, técnico de enfermagem e médico. “Para mim é muito gratificante porque é uma coisa que a gente se envolve muito dentro da comunidade. A gente vê a necessidade das pessoas e tenta de uma maneira ajudar”, explica a ACS.
Atualmente, as visitas se tornaram mais ágeis, já que agentes comunitários agora contam com a tecnologia dos tablets, o que facilita o cadastramento e preenchimento de informações das pessoas visitadas. “Isso facilitou tanto para o posto, porque quando a pessoa chega já está dentro do sistema, quanto para nós, porque diminuiu o papel e o nosso trabalho ficou muito melhor”, avalia.
A profissional vê o trabalho dela como um elo entre a comunidade e o posto de saúde, pois quando o usuário não consegue ir até a Unidade Básica de Saúde, por algum motivo, é por meio do agente comunitário que a pessoa pode ter acesso a uma consulta e outros serviços. Além disso, é o ACS quem indica ao médico ou ao profissional de enfermagem, quais pessoas precisam de uma consulta domiciliar.
Uma das pessoas, que fazem parte da área de atuação da ACS Jordania, é a aposentada Rufina Costa, de 85 anos, moradora da Folha 12. Durante a visita, Jordania faz algumas perguntas e procedimentos, como verificar a pressão arterial, se ela está sentindo alguma coisa e se tem tomado o remédio para hipertensão.
A idosa compartilha que a relação das duas vai muito além do âmbito profissional, o que a ajuda bastante. “Para mim ela é boa demais. Ela mede minha pressão, conversa comigo, me dá conselhos porque sou muito imaginativa, já tive depressão três anos. Jordania representa para mim muitas coisas. É alegre comigo. Onde ela me vê ela é distinta comigo e eu também sou com ela”, ressalta.
“Brigo com ela porque que ela não queria medir minha pressão assim que entrou aquela doença no mundo. ‘Dona Rufina porque não pode’. ‘Mulher, eu tenho o aparelho, mede minha pressão’. ‘Não pode, mulher'”, questiona.
A ACS explica que durante o pico da pandemia de Covid-19, as visitas não podiam ser realizadas. “Nesse período ficou bem restrito. Esse tipo de atendimento, de verificar pressão, a gente não estava fazendo”.
As duas fazem parte da vida uma da outra desde quando Jordânia começou como ACS. Uma relação que se aprimorou com o tempo.
“É como se eu a tivesse como um membro da família, o que não deixa de ser com a convivência. A gente acaba adquirindo esse amor. Porque eu a tenho como uma mãe. Ela disse pra mim que os meus filhos são os netinhos dela. Tanto é que quando eu tive meu filho, ela foi me visitar. Quando eu me espantei, ela estava lá na porta de casa ‘ah, vim visitar teu filho’. Pra mim é como se fosse da família mesmo”, reitera.
Na UBS Huroshi Matsuda são três equipes de Estratégia Saúde da Família totalizando 23 ACS’s . Cada equipe tem, em média, quatro mil cadastros individuais. A UBS é responsável pela cobertura das Folhas 1 a 13.
Com a visita, o ACS realiza uma espécie de diagnóstico das necessidades de serviços de saúde dos membros da família e avalia se há a necessidade de uma visita para consulta de um médico ou profissional de enfermagem. Ou, quando o paciente não pode se deslocar à unidade é ele quem agenda a consulta.
Os ACS’s também têm papel importante na realização do cadastro e coleta de dados para benefícios sociais como o Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família).
“O ACS é fundamental dentro do processo da unidade de saúde porque é ele quem vai captar, vai nos dar o termômetro de como a nossa comunidade está para que possamos ser mais efetivos, chegar com menos tempo até o paciente”, destaca o gerente da UBS Hiroshi Matsuda, Dilceu Barroso.
A aposentada Doralice Barbosa, 78 anos, também mora na Folha 12 e é uma das cadastradas na área de cobertura da ACS Jordania Reis.
“Ela faz a visita dela certa, vem, conversa com a gente e tudo é bem. Faz tudo bem, graças a Deus. Ajuda muito a gente, já livra de eu ir para lá porque com esse negócio dessa pandemia eu fiquei mais com medo de ir para lá. Para mim é muito importante essa visita, gosto muito”, pontua a idosa.
Ela conta que fará uma consulta para saber se precisa trocar o remédio para hipertensão. Jordania explica que no caso da aposentada também devido à idade avançada a visita domiciliar do médico é mais indicada.
“No caso da Dona Doralice, como tem dificuldade de ir ao posto, o que a gente faz? A gente marca, vem com a médica, a médica visita, verifica como está a pressão dela, vê os exames para saber se está precisando de alguma coisa, trocar receita”, explica.
Com Doralice, a amizade também é antiga desde quando a aposentada morava na Folha 18, onde Jordania mora até hoje. Para a profissional é gratificante cuidar dela depois de todo o tempo que passou.
“Ela morava na rua que eu nasci. Então, ela sempre fala assim ‘eu vi ela correndo de calcinha brincando na rua’. Toda vez ela conta essa história. Aí ela fala ‘eu vi ela crescer”. Então, hoje acompanhá-la, pra mim é um prazer porque como se ela na infância pudesse ter cuidado de mim e eu hoje na minha fase adulta cuidar dela também”, finaliza.
A diretora da Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Sheila Macedo, reforça que os agentes comunitários de saúde são o elo de comunicação e vivência da comunidade com a UBS.
“Quando precisa de médico, é ele (o ACS) que faz a visita verificando qual é a comorbidade, qual é o tipo de necessidade de tratamento que esse usuário está precisando. Então, tanto ele quanto o enfermeiro, quanto o médico, traçam estratégia justamente para atender a comunidade. Então, é fundamental o papel e a importância do ACS dentro das unidades básicas de saúde nesse contexto quando a gente trabalha com prevenção”, observa a diretora.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Paulo Sérgio