Saúde: Caps mantém serviço de acolhimento e atendimento a pessoas que enfrentam o alcoolismo
De acordo com dados de 2019 do Ministério da Saúde, 18,8% dos brasileiros é consumidor abusivo de bebidas alcoólicas. Quando a relação com a bebida extrapola o limite adequado, é necessário entrar em ação mecanismos que auxiliem o indivíduo a lidar com essa situação. Neste 18 de fevereiro é o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo. Em Marabá, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) disponibiliza atendimento para quem procura ajuda.
O alcoolismo se configura quando a pessoa passa a ser dependente da substância, passando a consumi-la de maneira abusiva, nos mais variados momentos. Para exemplificar, imagine uma pessoa que bebe apenas aos finais de semana com os amigos, em contraste com uma pessoa que bebe quando está triste, frustrada, que precisa da bebida em qualquer situação e busca na bebida uma espécie de refúgio. Isso acaba por ser uma relação prejudicial para a pessoa, afetando sua vida e as pessoas ao redor.
A enfermeira psiquiátrica Paula Aviz trabalha no CAPS. Uma de suas atividades é conduzir o grupo de redução de riscos, voltado para pessoas que enfrentam o alcoolismo em um grau grave. Ela explica que o uso de álcool torna-se nocivo em situações em que a pessoa passa a não ter controle financeiro e se expõe a situações de risco, por exemplo.
“Como é que o CAPS age? Ele vai primeiro motivar aquele usuário, para que aquela pessoa tenha um entendimento de que aquilo é realmente problemático e nessa relação a pessoa tem que entender que aquilo é problemático para a vida dela. A gente não vê só do ponto de vista clínico, a gente vê do ponto de vista das relações sociais que essa pessoa está tendo no território, de tudo aquilo que o álcool está impedindo. Lembrando que é sempre o nível mais problemático possível para poder desenvolver uma ação”, explica Paula Aviz.
As pessoas encaminhadas ou que buscam espontaneamente o CAPS, por vezes ouvem falar da existência do serviço ou são levadas por familiares após surtos psicóticos induzidos pela substância ou situações de risco.
Em um primeiro momento, a pessoa passa pelo acolhimento. É nesse estágio que um técnico de referência do CAPS faz uma avaliação para saber se a pessoa se encaixa no perfil do centro e quais atividades deverá realizar. É nesse momento também que se buscará compreender quais fatores subjetivos e externos levaram a pessoa a essa situação.
As atividades são pensadas e executadas de acordo com o perfil de cada pessoa, levando em consideração alguns aspectos importantes como perda, em algum nível, de cognição, e um projeto terapêutico é feito para esse paciente seguir. Isso pode abarcar consultas para receber medicação, exames, consultas com psicólogo, consultas com enfermeiros para avaliação de agravos, atividades com terapeuta ocupacional ou o grupo de redução de danos.
No grupo de redução de danos, os participantes têm atividades que os ajudam a ter consciência de seu estado, saber quais consequências acontecem a partir de uma tomada de decisão, conversar sobre abstinência, recaídas e uso controlado, por exemplo.
Ela explica que o grupo é para as pessoas que compreendem que estão em uma relação problemática com o álcool e estão em um uso intenso, e que busca discutir temas pessoais e relacionados à substância por meio de dinâmicas e atividades, como exibição de filmes.
“No momento é um grupo muito rotativo porque a demanda de álcool e drogas é uma demanda muito delicada. Tem semanas que a gente tem um grupo lotado, tem semanas que não. Tem semanas que todo mundo está muito motivado, tem semanas que há recaída. É um trabalho muito delicado e ao mesmo tempo muito interessante porque você passa a entender o sujeito não naquela perspectiva de que ele tem que parar uma substância o mais rápido possível. Não, ele tem que compreender por que isso está sendo complicado para a vida dele, tem que entender se ele quer ou não parar e quais são as consequências se ele não parar, quais são as consequências se ele apenas diminuir, o que esse uso já afetou a vida dele e por que isso tem preenchido tanto espaço assim na sua vida”, observa.
O importante é que a pessoa tenha consciência de que precisa de ajuda e buscar um tratamento que a auxilie a parar ou diminuir o consumo do álcool. A partir do momento que ela chega ao CAPS, conta com a orientação mais adequada para sua situação.
“A partir desse acolhimento o profissional vai definir se a pessoa vai só para os agendamentos, se vai ser inserida no grupo também, se o perfil dela é um perfil tão complicado que ela vai ter que passar alguns dias na semana indo para o CAPS passar o dia como forma de reduzir essa procura pela substância. Temos aqueles usuários que a gente observa que vão ter a necessidade de parar, de internação no CAPS ou já participar das atividades como uma forma da gente conhecer esses usuários”, conclui.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Arquivo Secom