Saúde: Importância de conhecer a diferença entre HIV e Aids
Entre janeiro e outubro de 2023, foram notificados 137 diagnósticos positivos para HIV no Serviço de Atendimento Especializado / Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA) de Marabá. As notificações dizem respeito apenas ao município. Se forem contabilizados os diagnósticos dos demais municípios atendidos, os números sobem para 209. Atualmente, 3.500 pessoas que vivem com HIV são acompanhadas pelo serviço.
Desde a década de 1980, quando a epidemia de HIV/Aids surgiu, vários estigmas rodeiam o vírus e a doença. Muitas informações erradas foram lançadas por terra e a ciência conseguiu avançar bastante no tratamento.
O HIV é o Vírus da Imunodeficiência Humana, que pode desencadear a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) ou Aids. Para o médico infectologista Harbi Othman, do SAE/CTA, é imprescindível que as pessoas compreendam a diferença entre quem tem o vírus e quem desenvolveu a doença.
“É muito importante que a gente consiga distinguir essas duas coisas porque são um espectro da mesma doença, que é uma etapa avançada. Então, nem todo mundo que tem HIV tem Aids. Inclusive, o tratamento é para evitar que a pessoa progrida para um estado de Aids, que é quando há uma destruição do sistema imunológico em um paciente que tem o HIV e não está fazendo o tratamento”, explica.
Nesse sentido, é perfeitamente possível que uma pessoa tenha o vírus, mas que graças ao tratamento, não desenvolva a doença. Desde o início, quando os primeiros casos foram registrados, alguns estereótipos foram propagados e o tratamento era bem complexo. O número de medicamentos eram tantos, que se chamava de coquetel. Hoje, o tratamento mais comum reúne apenas dois comprimidos e já há alternativas que reduzem para apenas um.
A principal forma de transmissão é por via sexual, em qualquer tipo de relação sexual desprotegida (vaginal, oral e anal), ou seja, sem preservativo. O compartilhamento de seringas por usuários de drogas injetáveis também é um meio de transmissão, mas que hoje já não é tão comum. Há ainda, os acidentes ocupacionais envolvendo profissionais de saúde que, ao manusearem uma seringa com sangue infectado, por exemplo, podem se ferir e ficar expostos ao vírus. A testagem é um dos principais meios de evitar novas infecções, como ressalta Harbi Othman.
“Imagina você que uma pessoa foi infectada hoje por HIV, essa pessoa muitas vezes não desenvolve sintomas, por isso, a importância da testagem. Ao longo do tempo, o vírus no corpo da pessoa sem tratamento, vai destruindo células do sistema imunológico. Com o passar do tempo, que é variável de paciente para paciente, essa imunidade do paciente chega a um valor tão baixo que ela começa a manifestar outras infecções que não acontecem habitualmente em quem tem o sistema imunológico preservado, o que a gente chama de fase Aids. Por ser uma doença muitas vezes silenciosa, a importância de fazer a testagem para que a gente identifique num momento precoce, consiga iniciar o tratamento e o paciente não apresente essa queda do sistema imunológico”, afirma.
Quando a pessoa realiza a testagem e tem o diagnóstico de que possui o HIV, o tratamento faz com que em até seis meses o vírus fique com uma carga indetectável na corrente sanguínea, o que por sua vez torna o indivíduo intransmissível para o vírus. Por isso, a importância do diagnóstico, do tratamento com a medicação e do exame periódico de carga viral. Todos esses serviços estão disponíveis no SAE/CTA.
Os avanços da ciência foram tantos que, hoje, mulheres que possuem o vírus podem ficar grávidas sem o risco de transmitir para a criança ou para o parceiro, por exemplo.
Atualmente, o sistema público de saúde dispõe de outras modalidades de prevenção que são as Profilaxias Pós-exposição ao HIV (PEP) e Pré-exposição ao HIV (PrEP).
A PEP é uma profilaxia de emergência utilizada quando, em uma relação sexual, o preservativo romper ou quando ocorre um acidente ocupacional envolvendo profissional de saúde que ficou exposto à material biológico ou instrumento perfurocortante. Nesses casos, a pessoa tem que procurar o SAE/CTA em até 72 horas para receber o medicamento em que o uso é contínuo por 28 dias. A PEP reduz o risco de infecção. A medicação também é ministrada em pessoas que sofreram abuso sexual.
Já PrEP é voltada para quem tem um nível de exposição de risco frequente. Como exemplo, um casal em que um dos parceiros possui o vírus e o outro não. Nesse caso, a pessoa que não tem o vírus pode fazer uso da medicação, que diminui o risco de transmissão. Profissionais do sexo e pessoas que tenham pelo menos uma exposição de risco a cada seis meses também estão aptas a utilizar o medicamento. É importante salientar que a PrEP não substitui o preservativo, mas é apenas uma medida de prevenção a mais para uma relação sexual segura.
A Atenção Básica, por meios das Unidades Básicas de Saúde, já realiza o teste rápido de HIV e está apta a fazer os devidos encaminhamentos dentro da rede de saúde. A pessoa que possui o vírus conta com um grande suporte por parte do serviço de saúde e, seguindo as orientações e tratamento, têm uma vida comum.
“A qualidade de vida é excelente. A expectativa de vida, é importante falar, de alguém que tem HIV e trata é igual de alguém que não tem HIV. O que a gente avançou nisso é fantástico. É importante que essas informações cheguem para a população até para a gente conseguir quebrar um pouco do estigma que há. O paciente tem apenas que lembrar do remédio porque não vai ter efeito colateral. Se, eventualmente tiver, que é um percentual pequeno, existem outras opções que podem ser trocadas. A pessoa só tem que lembrar do horário do remédio”, reitera.
Para 2024, o planejamento é ampliar a testagem tanto no próprio serviço como por meio das campanhas itinerantes em pontos estratégicos da cidade, com distribuição de preservativos é orientações. É a prevenção pelo diagnóstico.
Isso mostrou muito efeito. A gente conseguiu identificar muitos casos que, às vezes, passaria batido, a pessoa não saberia que tem e isso é importante para tratar individualmente a pessoa, mas também do ponto de vista de saúde coletiva. Identificar, tratar essa pessoa, para quebrar a cadeia de transmissão”, conclui o médico.
Serviço
O SAE/CTA fica localizado próximo ao Hospital Materno Infantil, na Marabá Pioneira e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, com testagem rápida para Infecções Sexualmente Transmissíveis, distribuição de preservativo e outros serviços de aconselhamento e prevenção.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Jéssika Ribeiro e Arquivo Secom