Saúde: Vigilância Sanitária, Unifesspa e pescadores garantem pescado saudável
A Prefeitura de Marabá, por meio da Divisão de Vigilância Sanitária (Divisa), pesquisadores da Unifesspa e um representante da Colônia dos Pescadores Z-30 participaram de uma coletiva à imprensa para tranquilizar à população sobre o consumo de peixes no município. De acordo com eles, não existe nenhuma suspeita de que os peixes da região estejam produzindo acúmulo da toxina causadora da síndrome de Haff, conhecida popularmente como doença da “urina preta”, registrada em cidades do oeste do Pará.
De acordo com Daniel Soares, coordenador da DIVISA, não há nenhuma comprovação científica ou até prática, de que a síndrome de Haff, registrada na região do Amazonas, possa estar tendo reflexo na região. A Divisa acredita que o ocorrido por lá, seja um caso isolado. Além do mais, como medida de segurança, a vigilância garante que já inspecionou o comércio em busca da procedência dos peixes comercializados no município e pede à população que volte a consumir o peixe.
“Não há nenhuma proibição da comercialização do pescado aqui em nossa cidade. A vigilância sanitária em nenhum momento falou da proibição da comercialização. Fizemos até uma nota recomendando o consumo desse pescado. Onde houveram os casos, não tem nenhuma ligação com as nossas bacias aqui. Informamos a todos que poderemos sim consumir nosso pescado, comprar pescado da feira, pescado comercializado nos supermercados. Nós fizemos uma verificação nos supermercados de Marabá, de qual a procedência do pescado comercializado nesses estabelecimentos e verificamos que todos são provenientes de cativeiros, e não há um registro de doença que se desenvolveu nesses ambientes”, esclarece Daniel.
O médico veterinário da DIVISA e da Sespa, Roger Lobo, reforça que o mapeamento dos peixes comercializados por aqui foi feito e alerta os comerciantes para que não negociem com fornecedores de outras bacias hidrográficas, por enquanto. “Mapeamos algumas espécies como Surubim, Mapará, Tucunaré, Caranha, Acari, Tambaqui, Tambacu. Peixes tanto da bacia quanto dos cativeiros. Não tem problema da doença da Urina Preta. O povo de Marabá pode ficar tranquilo”, reforça o veterinário.
Daniel Soares, coordenador da DIVISA Roger Lobo, médico veterinário da DIVISA e da Sespa
A professora doutora Cristiane da Cunha, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), enfatiza que pesquisadores da instituição vem monitorando a produção de pesca da região e destaca que nem todas as espécies de peixes estão suscetíveis a produzir a toxina que tem causado a urina preta. O grupo de peixes associado à doença são o Tambaqui, Pirapitinga (caranha) e o Pacu.
No entanto, vale ressaltar que o Tambaqui consumido por estas bandas, não é natural da bacia regional, essa espécie geralmente é mais encontrada em criatórios, onde não há registros da doença. Já a caranha não é tão capturada, o que diminui os riscos. Outro fator importante pontuado pela pesquisadora é de que a bacia Araguaia-Tocantins é independente da bacia do Amazonas onde foi identificados os casos sobre a doença.
“Estamos em uma outra bacia hidrográfica o que nos traz um certo conforto, é claro que precisamos ficar atentos, mas até o momento não temos nenhuma identificação. Sobre a produção do pescado de pequena escala na nossa região, o que é mais capturado hoje, a partir do monitoramento que a universidade tem feito, é o voador, curumatá, barbado, jaraqui, tucunaré que é muito apreciado na nossa culinária. Para esses peixes não existe nenhum registro de que eles tenham acumulado essa toxina e são eles que normalmente vamos encontrar nas feiras e mercados da cidade” afirma a professora.
Cristiane da Cunha comenta ainda que apesar de ser uma doença antiga, os pesquisadores não conseguiram descobrir as causas do acúmulo da toxina nos peixes, restando apenas algumas hipóteses, dentre elas, de que são casos isolados e temporários. Segundo a professora, para o pesquisador e professor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Jansen Zuanon, especialista em ictiofauna (estudos de peixes), uma das possibilidades é de que devido à grande cheia do Rio Amazonas, em 2021, os peixes possam ter alcançado lugares que nunca havia antes e se alimentando, por exemplo, de plantas que possam ter contribuído para a produção da toxina.
Crise na comercialização do pescado
Desde que as primeiras notícias dos casos de Haff no Pará foram divulgadas, o mercado de Marabá vem sofrendo com os impactos nas vendas de peixes. Segundo o representante da Colônia Z-30, Edvaldo Ribeiro, existem cadastrados uma média de 600 pescadores, os prejuízos são imensuráveis. “Esse esclarecimento é importante para o povo, porque não há nenhum caso comprovado em Marabá. O peixe é um dos alimentos mais saudáveis, mas a população está apavorada, com medo de comer o peixe, por isso agradecemos esse esclarecimento”, declara.
Cuidados na hora da compra
A tecnóloga de alimentos da Divisa, Caroline de Aquino, volta a salientar que na região não há evidências da doença de Haff , mas ela explica que assim como em outros produtos, é importante sempre ficar atento à qualidade dos peixes na hora da compra para evitar problemas.
“A toxina presente no pescado não tem cheiro, não tem sabor, e ela não é destruída durante a cocção. Mas é importante falar sobre a aparência do pescado no momento da compra, principalmente em feiras, supermercados, observar suas características sensoriais para saber se realmente esse peixe tá bom ou não para o consumo” orienta a técnica da Divisa.
Síndrome de Haff – doença da Urina Preta
A doença da urina preta ou Doença de Haff é causada por uma toxina que pode ser encontrada em determinados peixes como o tambaqui, o badejo e a arabaiana ou crustáceos (lagosta, lagostim, camarão). Quando o peixe não foi guardado e acondicionado de maneira adequada, ele cria uma toxina sem cheiro e sem sabor. Ao ingerir o produto, mesmo cozido, a toxina provoca a destruição das fibras musculares esqueléticas e libera elementos de dentro dessas fibras no sangue, ocasionando danos no sistema muscular e em órgãos como os rins.
No Brasil, foram registrados casos da doença em 2008 com algumas espécies de água doce como o Pacu (Mylossoma spp), tambaqui (Colossoma macropomum) e pirapitinga (Piaractus brachypomus), bem como peixes de água salgada, como a arabaiana/olho-de-boi (Seriola spp.) e badejo (Mycteroperca spp), além de novos casos em 2016 e, agora, em 2021.
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Paulo Sérgio