Seaspac: Projeto Ceaca atua há mais de 30 anos com ações para crianças e adolescentes
Desde 1988, o Centro de Atendimento à Criança e Adolescente (Ceaca) ensina o ofício do artesanato em madeira ao público infanto-juvenil. Ao longo das décadas, o centro mudou a vida de muitas crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.
Inicialmente, o Ceaca começou com o cuidado de mudas. No entanto, um dos participantes logo sugeriu que o projeto começasse a trabalhar com artesanato feito em madeira. O Ceaca atende crianças e jovens entre 7 e 17 anos, mas nas oficinas apenas quem tem entre 14 e 17 anos. Para participar, é necessário estar devidamente matriculado na escola de ensino regular.
A oficina de artesanato ocorre sempre no contraturno dos estudantes. O material é recolhido em oficinas que trabalham com madeira, que é doado ao Ceaca. Toda a produção é vendida em um estande no Shopping Verdes Mares e aos finais de semana na feira do pôr do sol, na Marabá Pioneira, além de exposições eventuais.
“Eles ganham 60% do que produzem. É anotado, eles acompanham a anotação e ganham na produção. Ao mesmo tempo não só confeccionam, têm o dia de lazer, de futebol e de palestra. Tivemos uma palestra sobre depressão, ansiedade e prevenção ao suicídio com um psicólogo e eles ficaram muito felizes. Nós temos uma programação para ter outros tipos de palestra”, explica Carlos Magno, coordenador do Ceaca, que ressalta que os 40% restantes da renda ajudam a manter o projeto.
Pelas contas do coordenador Carlos, mais de três mil crianças e adolescentes já passaram pelo projeto e são inúmeras as histórias de vidas transformadas. Ele explica que além da prática do ofício, o Ceaca também busca formar a partir desse público, cidadãos que irão contribuir para a sociedade.
“Tem meninos que hoje são grandes profissionais. Um rapaz que trabalhava comigo, era um menino muito bom e hoje é engenheiro civil e gerencia uma empresa muito grande em São Paulo. Tenho um áudio dele falando que a vida começou pelo Ceaca porque eu oriento muito, faço muitas reuniões com os meninos falando que isso aqui é apenas o início na vida deles e que quando eles trabalharem têm que ter compromisso, responsabilidade, respeitar hierarquia. Tudo isso a gente passa para eles”, reitera Carlos Magno.
O projeto é ligado ao Centro de Referência da Assistência Social (Cras) da Folha 13. Atualmente, cerca de 70 crianças e adolescentes são atendidos pelo Ceaca. O projeto é aberto para pessoas de todos os bairros e uma parte dos atendidos é encaminhada pela atuação da equipe de assistência social do Cras.
Leonardo Sousa, 17 anos, faz parte do projeto, mora na Folha 14 e estuda o 2° ano do Ensino Médio na Escola Salomé Carvalho, na Folha 16.
Ele soube do Ceaca por meio de um amigo que fazia parte do projeto e logo ficou interessado em participar também. Ele conta que passou um mês observando tudo o que era feito pra saber se era isso mesmo que queria fazer. De lá pra cá, já se passou um ano e meio.
“Geralmente, eu ficava mais em casa só esperando a hora de ir para a escola e agora eu vim para cá, comecei a confeccionar os brinquedos, ganhar meu dinheiro. É uma ajuda muito grande. É muito bom, é algo incrível a pessoa chegar aqui, nunca imaginar fazer tal coisa como os brinquedos, tem o instrutor também. É algo bom”, pontua.
Na oficina, os participantes fazem diversos objetos e brinquedos, como carros, maquinários, helicópteros, barcos e até pequenos móveis.
Enquanto Jhonathan Melo, 15 anos, soube do Ceaca por meio de sua mãe e colegas. Ele também é morador da Folha 14 e estuda o 9° ano na Escola Tancredo Neves, na Folha 23. Ele compartilha que entre os itens mais fáceis de fazer estão os carrinhos, e os mais difíceis, as máquinas.
“Aqui todo mundo ajuda um pouquinho, lixa as peças que os meninos fazem aí, tem a merenda. Sexta-feira tem o futebol no campo, tem a salinha, aula de pintura. Antes, a gente só ficava dentro de casa, não fazia nada. Aí comecei a vir pra cá, comecei a sair mais, comecei a brincar, jogar bola. Ninguém nunca brigou aqui, tem regras”, explica.
Quem um dia passou pelo projeto também contribui bastante com a formação das crianças e adolescentes atendidas pelo Ceaca. É o caso de Divino Santos, que é instrutor na oficina de artesanato há cinco anos.
“Eu iniciei aqui aos 14 anos, gostei do projeto, me envolvi. Aí fui aprendendo mais. Chegou a fase adulta e o Carlos estava precisando de um instrutor, me chamou, perguntou se eu queria. Como eu já gostava do projeto, aceitei”, lembra Divino Santos.
Ele conta que aproveita a oportunidade para mostrar seu potencial e tudo o que aprendeu quando fazia parte do projeto na adolescência. Além disso, para ele, ter passado pelo projeto deu um novo rumo para sua vida.
“Mudou bastante minha vida porque se não fosse o projeto eu acho que não estaria aqui. Acho que estava perdido aí no mundão, envolvido com álcool, essas coisas. Antigamente eu era aluno e hoje estar aqui dentro mostrando o trabalho, é muito gratificante para mim, passar aquilo que aprendi”, reitera o instrutor.
Após o artesanato, eles também participam de oficina de pintura dos itens produzidos.
O Ceaca sempre conta com programações extras como palestras que ajudam a dar orientações aos adolescentes.
Outra frente de ação importante do projeto é buscar ajudá-los na inserção ao mercado de trabalho, seja encaminhando para entrevistas de emprego ou para programas de jovens aprendizes.
“Eu vejo uma admiração, um respeito muito grande pelo projeto. Temos que fazer nossa parte, trabalhar sério, ser correto, passar passar para os meninos o que é sério, o que é certo. Então, eu vejo muito isso. Quantos pais já vieram aqui me agradecer pelo menino ter mudado o comportamento dentro de casa e interessado em estudar? Todos que eu conheço falam bem do projeto”, conclui o coordenador Carlos Magno.
Para participar, basta a criança ou adolescente comparecer à sede do CRAS da Folha 13, acompanhada dos pais, com declaração de matrícula na escola de ensino regular e documentos pessoais.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Paulo Sérgio