Seaspac: Venezuelanos da tribo Warao recebem assistência social em Marabá
A crise política, econômica e social que varreu a Venezuela nos últimos anos gerou uma crise humanitária sem precedentes, com uma onda migratória que já fez mais de 4 milhões de venezuelanos deixarem o país de origem. Com mais de 2 mil km de extensão, a fronteira do país com o Brasil se tornou a porta de entrada para uma vida melhor para parte dessas pessoas, entre elas os indígenas da etnia Warao, que logo alcançaram as grandes cidades do norte do país, incluindo Marabá.
Na cidade, a Secretaria Municipal de Assistência Social, Proteção e Assuntos Comunitários (Seaspac) realiza o acolhimento dos indígenas Warao desde 2019, quando famílias já estavam sediadas.
Os esforços iniciais se voltaram para regularizar a situação da estadia deles no país, por meio do protocolo de refúgio emitido pela Polícia Federal. Na SEASPAC, há uma equipe especializada, que atua na mediação entre os indígenas Warao e a PF, a fim de agilizar a regularização. É através desse protocolo que documentos como carteira de identidade, CPF e Cartão SUS podem ser emitidos.
“Nosso objetivo é a defesa intransigente dos direitos humanos independentemente de nacionalidade por meio da documentação de cidadania, registro de nascimento e benefícios eventuais”, pontua o assistente social Tancredo Paiva, técnico responsável pela acolhida aos imigrantes.
Segundo dados recolhidos pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ANCNUR), mais de 4 milhões de venezuelanos deixaram seu país com o agravamento da crise. Com a alta inflação, incerteza no cenário político, aumento da pobreza e a iminente fome, essas pessoas foram obrigadas a seguir um rumo cujo horizonte pudesse significar esperança de tempos melhores.
Em Marabá, são 51 indígenas Warao atendidos. A SEASPAC providenciou junto à prefeitura um espaço no Núcleo Marabá Pioneira para melhor acomodar os imigrantes. “Nós dispomos de um espaço que respeita a cultura deles, então é diferente dos outros abrigos que temos. Eles ficam de acordo com seus costumes e rituais”, ressalta o assistente social.
Por meio do abrigo, a secretaria tem realizado ações com o intuito de inserir os venezuelanos nos programas sociais como Bolsa Família e auxílio emergencial. Além disso, o município criou um comitê composto por diversos órgãos dos diferentes níveis da administração pública para estudar estratégias para melhor atendê-los. “A nossa ideia é fazer com que eles não fiquem dependentes do poder público pelo resto da vida”, reitera Tancredo Paiva.
As ações dos diversos órgão municipais têm buscado a inserção das crianças no processo educacional, acompanhamento da vacinação das crianças de 0 a 6 anos, além do acompanhamento constante do Programa Estratégia Saúde as Família da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Todos os Warao maiores de 18 anos já foram imunizados contra a Covid-19.
Recentemente, a equipe da SEASPAC responsável pela acolhida recebeu capacitação da ANCNUR para desenvolver estratégias melhores e mais eficazes no atendimento a essa população.
Outra preocupação é em inserir os indígenas Warao no mercado de trabalho potencializando suas habilidades como o artesanato, por exemplo. Nesse sentido, a secretaria buscou firmar parcerias com outros órgãos como Secretaria Municipal de Agricultura (SEAGRI), Serviço de Saneamento Ambiental (SSAM), Secretaria Municipal de Cultura (SECULT) e Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (SICOM) a fim de viabilizar formas de obtenção de renda. Uma das estratégias é, por meio do Departamento de Emprego e Renda da SEASPAC, proporcionar que eles possam produzir e comercializar suas produções artesanais.
“No nosso acolhimento nós damos o suporte material como aluguel, energia, comida e medicação, mas eles têm autonomia. Eles que gerenciam o próprio atendimento. O nosso desafio é fazer com que cada família tenha sua própria autonomia, mas é difícil pois são acostumados a viver em comunidade”, destaca a titular da SEASPAC, Nadjalúcia Oliveira.
Segundo o Ministério da Cidadania, há cerca de 260 mil imigrantes refugiados venezuelanos no Brasil. Apesar do número ser alto, muitas dessas pessoas tiveram que deixar tudo para trás, principalmente a família. Segundo a secretária, os indígenas Warao enviam para seus familiares, que ainda estão na Venezuela, o excedente da renda que conquistam aqui.
Para ela, a questão dos refugiados é de humanidade. “Para o mundo inteiro hoje é um desafio, nós temos que atender porque é um ser humano. Nada mais justo do que receber um grupo como esse porque você sabe que eles não estão aqui porque querem. Então, se você não se presta a ajudar, dar apoio e dar refúgio, que sociedade é essa? Nós temos obrigação e responsabilidade com todos esses povos que estão nessa situação de refúgio”, finaliza.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Aline Nascimento e Paulo Sérgio