SEMED: CAP produz cadernos de atividades curriculares adaptados para alunos com deficiências visuais
Para garantir a inclusão de alunos com deficiência visual na rede municipal de educação, o Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual (CAP), por meio do Núcleo de Produção, está trabalhando na acessibilidade dos cadernos de atividades curriculares elaborados pela Secretaria Municipal de Educação (Semed), para o ensino remoto. Os arquivos são enviados em mídia e, após analisados pela equipe do CAP, são reproduzidos com fonte ampliada para os alunos de baixa visão, e em braile para os cegos. Ao todo o CAP conta com cerca de 90 alunos, pouco mais de 60 estão matriculados na rede municipal no primeiro e segundo segmento do ensino fundamental.
Márcio Ribeiro, professor de ciências e que trabalha no setor de produção do CAP, explica que o serviço é feito minuciosamente para atender às especificidades de cada aluno.
“O aluno que tem a necessidade de uma fonte um pouco maior, a exemplo do aluno com baixa visão, nós temos um equipamento que faz a impressão em fonte ampliada. A segunda etapa é um pouco mais trabalhosa, que é para as pessoas com deficiência visual total. Ela precisa de uma adaptação em braile”. Essa adaptação, além de converter o arquivo PDF para o sistema braile, passa por outra etapa, uma adaptação de conteúdo. “Eles vêm geralmente com imagens e estamos falando de pessoas cegas, então fazemos a descrição das imagens. A impressão é feita numa impressora, equipamento bastante novo, tecnológico razoável, e que tem uma velocidade muito rápida”, descreve o professor sobre o processo de adaptação.
Após o material impresso, os técnicos do CAP ainda fazem o acabamento final para fácil manuseio dos alunos. O conteúdo também é produzido em formato TXT e convertido em MP3 para auxiliar na leitura. Nacélio Madeiro, ex-aluno da instituição, agora professor, é que tem a missão de revisar os cadernos em braile. Graduado em Química e com Bacharelado e licenciatura em ciências sociais, pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Nacélio sabe o quanto as adequações dos materiais são importantes para a aprendizagem e inclusão destes alunos
“Nesse momento é mais importante ainda termos um material acessível, em braile, para que nossos alunos cegos possam ter acesso ao conteúdo. Por mais que estejamos em um momento de pandemia, seguimos trabalhando, preparando material, adaptando para nossos alunos que estão em casa. A educação do cego é uma educação presencial, mas estamos procurando meios de adaptação e novas metodologias para trabalhar. Por isso achei importante essa ideia da Prefeitura de Marabá, dos cadernos” pontua.
Mirian Rosa Pereira, coordenadora pedagógica do CAP, reforça que as atividades do centro são de caráter experimental, por isso, os desafios são ainda maiores no ensino remoto dos alunos com deficiências visuais. Ao todo, cada aluno recebe 10 volumes mensais. O material para os alunos baixa visão já começou a ser entregue.
“A expectativa é de que esse material também de incentivo aos familiares, para acompanhá-los nesse processo de escolarização dos nossos alunos. Parar um momento, para ler, auxiliar numa tarefa, porque o atendimento especializado não é reforço. Ele é para potencializar, auxiliar, criar estratégias diferenciadas de vida em diferentes áreas. E esse papel de contribuir diretamente com a escolarização do filho, ou de uma pessoa que é responsável, a pandemia está mostrando isso muito forte. Hoje a temos todos os insumos necessários para produzir esse material”, pondera a coordenadora.
Entrega dos cadernos de atividades
De acordo com Mirian Pereira, os cadernos de atividades já começaram a ser entregues. Ela disse que o CAP tem mantido contato constante com as escolas da zona urbana, mas que o centro também está aberto a atender a zona rural.
“Temos um canal de comunicação com as escolas, já enviamos comunicados. O CAP está atendendo aqui de maneira permanente [apesar das obras de revitalização], as escolas também podem vir aqui. A gente tem o quantitativo, quem são esses alunos, quais são as escolas. A entrega de imediato se dá de dois modos: a família pode retirar no próprio CAP, ou a escola pode vir retirar. Em último caso, a gente constrói outra possibilidade de entrega para esse aluno”, esclarece.
Ela explica que os cadernos impressos em braile ainda estão em fase experimental.
“Primeiro nós priorizamos disciplinas que estão vinculadas, disciplinas de linguagens, ciências humanas: português, história, geografia, estudos amazônicos e artes, e aí entregamos essa primeira remessa, também em áudio, e o aluno começa a realizar as atividades. Posterior à gente vai começar com a demanda da área de exatas, ciências, matemática, pois o material também é diferenciado. A criança precisa ter outros conhecimentos do sistema de leitura e escrita do braile que dialoga com o processo convencional de representação na área de exata. Depois que nós concluirmos esse primeiro ciclo faremos as avaliações tanto com alunos, como familiares e escolas e adaptaremos para os próximos cadernos”, destaca.
Outros materiais de apoio pedagógico
O CAP, que está passando por obras de revitalização e ampliação do prédio, atende alunos de várias idades, até mesmo bebês. O atendimento inclui AVD (Atividades para Vida Diária), estimulação precoce, de matemática, voltada para o soroban, sala de braile e um centro de produção de materiais destinados à orientação de mobilidade de alunos com baixa visão. O centro tem ainda uma biblioteca com livros de várias áreas do conhecimento. Além disso, os alunos recebem apoio em disciplinas como português, ciências, língua estrangeira, dentre outras para potencializar o aprendizado dos alunos.
Além dos cadernos de atividades curriculares, o CAP também tem kits AVD para os alunos que não tem condições de ter qualquer outra forma de ensino remoto, por meio de recursos digitais. Um caderno que acompanha materiais produzidos para estimulação do tato, formas, texturas, a percepção sonora.
“O próprio processo de exploração da alfabetização do pré-braile, questão sensorial, das formas, da coordenação motora fina, grossa. Materiais que criam experiências com a criança cega, como venda tapa olhos. Diferentes atividades que realizávamos aqui e que sofreram adequações para que os familiares realizem no espaço familiar não só agora, mas que deem continuidade no contexto pós-pandêmico”, pondera a coordenadora.
Materiais produzidos em Impressora 3D
Uma das novidades do CAP, que coincidiu com o ensino remoto, foi a aquisição da impressora 3D. O equipamento tem sido utilizado pelo centro na confecção de materiais didáticos e lúdicos para os alunos, bem como, outras peças que auxiliam os deficientes visuais em suas atividades diárias, a exemplo do suporte para celular.
“O material em 3D é um material mais durável, que você pode modelar e levar para qualquer outro lugar sem riscos de molhar ou de queda. Com essa impressora foi possível inclusive fazer placas de identificação de salas, antes fazíamos de papel. A forma de conteúdo também é um pouco mais rica. Material colorido, tanto para baixa-visão, quanto para pessoa com deficiência visual, porque ele pode tocar. O diferencial é a possibilidade de fazer um material melhor e com mais precisão. Alunos cegos precisam do tato e é isso que é interessante, manusear um equipamento de forma tridimensional para que ele possa entender o conteúdo”, enfatiza o professor Márcio Ribeiro.
Nacélio Madeiro, também ressalta que a impressora é um sonho para os alunos, dado os avanços que representa na sua educação.
“Um equipamento desses é muito importante na vida de uma pessoa com deficiência visual. Quando você tem visão e alguém fala de um objeto, de um animal ou de qualquer outra coisa, você vai visualizar, reconhecer na tela de uma TV. E o cego? Como você vai explicar como é um elefante? E através da impressão 3D você consegue fazer com que ele possa tocar, sentir. Alguém fala: olha o jacaré e ele automaticamente vai ter na memória como é o jacaré”, conclui Nacélio.
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Aline Nascimento