37º Festejo Junino: Encerramento com celebração da Junina Fogo no Rabo como grande campeã
A noite de domingo, 30, foi de muita comemoração e emoção com a consagração da grande campeã Fogo no Rabo, do grupo A, no 37º Festejo Junino, realizado pela Prefeitura de Marabá, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Secult), em parceria com a Liga Cultural de Marabá (Licmab) e patrocínio da empresa Equatorial.
O grupo venceu a competição com 59,70 pontos, obtendo nota 10 em quatro dos seis critérios de avaliação dos jurados, já na madrugada do dia 01 de julho. Com o tema “O Garimpeiro da Sorte”, o grupo trouxe à arena o resgate histórico do garimpo de Serra Pelada, em Curionópolis. O enredo contou a história de Zé Maria, que após bamburrar (termo usado por quem enriquecida, encontrando pepitas de ouro) no garimpo, no final dos anos 1980, continua rico, pois seus objetivos eram diferentes dos outros garimpeiros, que gastavam tudo com farra, mulheres e superficialidades.
O grupo apresentou nas vestimentas as cores do barro preto e molhado chamado “melechete”, que surgia à medida que as montanhas iam sendo derrubadas e mudavam de cor. Nas calças traziam aplicações representando as temidas escadas “adeus, mamãe” e nos chapéus e arranjos das damas miniaturas das ferramentas usadas: bateias, picaretas e escadas.
Com um histórico de 11 vitórias no festejo de Marabá, 27 títulos intermunicipais e três vezes campeã estadual pela seletiva Arraiá Brasil, o coordenador Ademar Dias se emocionou muito quando recebeu o troféu. Ele conta que são 36 anos à frente da agremiação, que surgiu dentro da igreja católica, cujo objetivo é trabalhar o cunho social.
“Estou muito feliz e agradeço muito a Deus por esse momento. É um projeto cultural que surgiu para envolver crianças, jovens e adultos em atividades culturais de lazer, possibilitando se afastar da droga, violência e marginalidade. Esse é o objetivo da Fogo e, no decorrer dos anos, a gente foi se tornando uma referência, não só para quem mexe com o grupo junino, mas quem trabalha a questão social mesmo. Fiquei muito feliz de ver o equilíbrio que foi esse ano, a grandiosidade que foi o festejo de Marabá, o espetáculo das mirins, o espetáculo dos Bois-Bumbás, o espetáculo do Grupo B, o espetáculo das cinco finalistas. Esse ano essa final foi extraordinária”, elogia.
O segundo lugar ficou com a estreante do grupo de elite do festejo, a Junina Arretados da Paixão, com 59,60 pontos, apenas 1 décimo de diferença da campeã. Com o tema “Baião de dois: culinária, música e paixão”, contando a história do surgimento da mistura do arroz com feijão, prato tão importante no Nordeste e que se popularizou e ganhou o Brasil.
Nas roupas da quadrilha, as cores marrom para os homens e branco para as mulheres simbolizava essa mistura. No decorrer da apresentação os brincantes mudam de roupa e todos se apresentam com trajes de cor bege, marrom e dourado.
Com o início dentro de um grupo de amigos apenas para brincar e festejar o São João, o grupo cresceu e ganhou notoriedade nos arraiais da cidade e, em 2022, começou a se apresentar no Festejo Junino de Marabá. Léo Vasconcelos, um dos coordenadores, afirmou ser uma sensação maravilhosa ter subido da série B e esse ano já ser vice-campeão.
“É maravilhoso competir entre as grandes e, graças a Deus, a gente conseguiu o segundo lugar. Parabéns à Fogo no Rabo pelo trabalho que fez. A mistura deu certo. Hoje tem ‘baião de dois’. Isso vai ficar marcado pelo resto da vida de todos que estiveram aqui na arena. Quando comerem o baião de dois vão lembrar da Arretados da Paixão”, argumenta.
Campeã de 2023, a Junina Fuá da Conceição ficou em terceiro lugar este ano, com 59,50 pontos, e trouxe o tema “Bailamazon – Uma odisseia na Amazônia Paraense”, que foi baseada em fatos reais e contou a história do povoado de Santa Luzia do Pará, onde castanheiros, pescadores e lavradores possuíam terras e viviam da colheita sustentável, da fé e das lendas que permeavam o imaginário popular.
As roupas do quadrilhão traziam as cores quentes e mistas de laranja e verde representando a tropicalidade da nossa região.
O início da junina se deu a partir de um movimento da igreja católica e esse ano completa 10 anos de existência. Apesar disso, somente no ano passado começou a expandir as apresentações para fora da cidade e já conquistou os prêmios de melhor rainha em Rondon do Pará, melhor casal de noivos no interestadual no Maranhão, vice-campeões nacionais em Palmas (To) nas categorias rainha e casal majestade.
Procópio Neto, vice-presidente da junina, relata que a apresentação foi uma superação. “Foi um festejo grandioso, um festejo onde as juninas estão fazendo apresentações de grande porte. Ano passado, nos consagramos campeões, e esse ano estarmos no pódio entre as três primeiras é um motivo de muito orgulho, e um agradecimento à prefeitura por todo esse evento, por toda essa grandiosidade, só quem ganha é a cultura do nosso município”, enaltece.
Demais Premiações
A rainha eleita como a melhor na categoria foi a Bruna Castro, da Junina Arrastão do Amor, que se apresentou como a rainha do Çairé, simbolizando a personagem do rito religioso Saraipora, com as principais cores do Çairé. Ela também conquistou o vice-campeonato do concurso nacional Cidade Junina da Confebraq.
“É uma emoção muito grande. É o meu primeiro ano de rainha e já conquistar esse título. Esse foi muito importante, porque é na cidade e tudo. Então eu estou muito grata. Não sei nem como agradecer esse momento. É muito especial. É muita batalha, muita luta. Desde janeiro ensaiando pra estar nesse momento assim, foi magnífico”, comemora.
O melhor casal de noivos também foi da Junina Arrastão do Amor, que representaram o ato da sedução do profano do festival do Çairé, nos personagens da lenda do boto. A noiva como a cabocla Borari e o noivo como filho do boto.
“A sensação é de muita felicidade. A gente trabalha desde janeiro para entregar o melhor aqui na nossa cidade. E a gente vem de uma sequência de conquistas de títulos intermunicipais em outras cidades, mas o daqui da nossa cidade tem um gostinho super especial. E a gente está muito feliz com essa conquista”, pontua a noiva Narair Renata Silva.
O noivo Wanderson Rego complementou dizendo que a conquista é mérito de muito esforço, muito trabalho. “Chegar aqui e vencer deixa a gente muito feliz, com certeza”, ressalta.
Para o secretário de Cultura, Genival Crescêncio, esse ano o festejo foi muito especial e estuda-se a necessidade de ampliar a festividade.
“Ao longo dos últimos anos, com todo esse apoio da prefeitura e a parceria com a Liga Cultural de Marabá, surgiram os novos grupos e nós percebemos agora a necessidade de ampliar o número de dias. A gente percebe que houve uma evolução muito grande no trabalho, no desenvolvimento das atividades de cada grupo. O resultado são as apresentações que ocorreram na arena e o público permaneceu lotando as arquibancadas por volta de 02h30 da manhã, aguardando até a última apresentação. Queria deixar registrado já esse desafio para a nova gestão que será ampliar os dias do festival para contemplar todos os grupos e também fazer com que todas as famílias possam apreciar essa atividade, que é o movimento mais forte da nossa cidade”, explana.
Outras apresentações
A noite também contou com a apresentação do grupo Cultural Pássaro Rouxinol, que abriu o nono dia de festejo e mais uma vez apresentou a história do pássaro encantado que é caçado por um caçador para que sua mulher possa comê-lo. O cordão de pássaro possui personagens como ciganas, cangaceiros, caçadores e policiais, que dançam em semicírculos ou meia lua.
Várias personalidades pioneiras do festejo foram homenageadas como Gilson Vasconcelos, José Lindenberg Acácio e Manoel dos Reis, criador do festejo junino. “Criei o festejo em 1982, na Praça Duques de Caxias, e em 1983, tinha mudado de prefeito e eu recebi uma punição de 15 dias de suspenção por ter feito o festejo junino diante do busto do Duque de Caxias. Mas aí, mudamos lá para a Praça Osorinho, e a festa tomou a proporção que hoje é. Estou muito orgulhoso, muito orgulhoso. É como se um filho meu crescesse e se formasse”, emocionou-se.
Depois foi a vez da Junina Mirim vencedora, que também foi do grupo Fogo no Rabo, com o tema “Chaves, o menor abandonado”, abordando a questão do abandono infantil, que está presente no Brasil e no mundo.
“Gostaríamos de trazer essa mensagem para todos os presentes, pois o abandono não é apenas a questão de uma criança de rua, não, existe um abandono afetivo dentro do aspecto da família. Quando o pai, a mãe ou o parente não dá a devida atenção ao seu filho, deixa ele de lado, isso também é considerado abandono”, argumenta o marcador Anthony Sousa.
Para ele, o resultado foi muito gratificante. “É muito bom ver o nosso trabalho sendo levado ao nível mais alto, a gente se sente honrado em estar em primeiro lugar pelo concurso municipal de Marabá. E, se Deus quiser, no ano que vem viremos mais fortes”, promete.
A Rainha da Diversidade, Morgana Salvatore, da Junina Arrastão do Amor, foi a grande vencedora na categoria e também teve seu momento na arena. “Ano passado eu fui marcador. Está sendo muito incrível, uma experiência super nova. Até porque o meu estilo é o de salão, o estilo de Belém. Então, pra mim tá sendo algo surreal, algo novo e eu gosto muito de aprender algo novo. Primeiro ano na cidade, primeiro ano de rainha Diversidade, já ganhando esse título é maravilhoso. Estou sem palavras”, comenta.
A noite também foi animada na Praça de Alimentação que estava lotada e contou com show de Ruanna Ly, que levou os casais à pista de dança a noite toda e DJ Pinto, que completou a festa.
Texto: Fabiana Alves
Fotos: Sara Lopes, Jordão Nunes e Jéssika Ribeiro