Saúde Mental: Arte, cultura e conscientização marcaram celebração do Dia da Luta Antimanicomial
“A gente é um ser humano e a gente não aceita mais isso. Manicômio nunca mais. É horrível! Manicômio nunca mais. Manicômio não!”
Essa fala é da Luana Suelly, que é atendida pelo Centro de Atendimento Psicossocial em Marabá, Caps Castanheira (III). Fala que significa o ecoar das muitas vozes de quem luta para que o tratamento concedido às pessoas com algum transtorno mental nunca mais seja o que era dado em manicômios. Ela é uma das tantas vozes que se unem neste dia 18 de maio, Dia da Luta Antimanicomial, que foi celebrado na praça São Francisco, no núcleo Cidade Nova, com várias apresentações culturais ecomo carimbó, exposições de artesanatos e atendimento médico.
“Esse dia é um dia muito especial, ficará marcado, um dia muito fundamental. É o dia da gente colocar a nossa voz, ter o nosso grito e defender os nossos direitos porque nós estamos aqui, nós não somos excluídos, nós somos incluídos na sociedade, por isso que a gente faz tratamento no Caps. Outras pessoas que dizem que a gente é louca, loucas são elas que estão lá fora e não querem se tratar. E nós, usuários do Caps, merecemos respeito, muito respeito, porque a gente não é um animal. Até um animal se trata com carinho, mas a gente não é um animal. A gente é um ser humano e a gente não aceita mais isso”, expressou Luana.
A mostra de artesanato na ação é toda produzida pelos pelos usuários do Caps, resultado das oficinas promovidas no Centro.
“O 18 de maio é um movimento que é contra os manicômios. Antes as pessoas da sociedade que tinham algum tipo de deficiência mental ou problema mental eram excluídas da sociedade, eram isoladas, não tinham direitos. Com a revolução que teve, as pessoas passaram a ter direito de ir e vir, direito à sociedade. (…) A gente veio trazer esse movimento e mostrar o quanto eles são brilhantes, o quanto eles têm talentos, o quanto eles podem. Ainda tem um tabu sobre isso, muitas pessoas têm medo, têm receio e a gente quer mostrar para eles que os usuários do centro são pessoas que podem viver em sociedade”, explicou a gerente do CAPS III, Iara de Souza Pereira.
Uma das exposições era a de artesanato de crochê com mostras de bolsas e bijuterias, além dos materiais feitos com decupagem, pinturas e feltro.
A artesã e professora de artesanato Lena Santos, explica que o objetivo é fazer com que os atendidos possam complementar a renda com as próprias produções.
“Para não ficar naquela situação só esperando um benefício. Então é assim, a gente tem vários tipos de oficina, oficina de pintura, oficina de decupagem, oficina de crochê, oficina de feltro, oficina de doces. A gente tenta abranger toda essa gama que a gente tem de conhecimento e passar pra eles. Eles não são incapazes de fazer as coisas, tem lentidões, mas tem condições de fazer. Então aqui nós estamos com o trabalho deles belíssimo, mostrando que eles são capazes de fazer tudo isso e muito mais. Tudo é uma forma de terapia. Então, nada é trabalhado com eles em quantidades e como uma venda. É terapêutico”, complementa.
A artesã e também professora de artesanato, Eliete Souza, pontua que antes, com os manicômios, o tratamento dado era considerado cruel. “Hoje é um dia muito importante de luta contra os manicômios, que era o regime de tratamento de saúde mental fechado, desumano e de tortura. Hoje, o que a gente tem de serviço de saúde mental trabalha humanização, que é o cuidado dentro da sociedade. E para tanto, a gente trabalha a inserção deles de diversas maneiras, seja com grupos de expressão corporal, carimbó, o artesanato em si, tanto pra geração de emprego e renda quanto para efeito terapêutico”, enumera.
Gianne Ribeiro é uma das pessoas atendidas pelo Caps. Ela reforça que esse tipo de trabalho melhora a autoestima. “A terapia é muito boa porque a gente trabalha com artesanato, a gente faz flores, agenda, tudo quanto for de arte a gente faz. A nossa técnica de referência é a Eliete, é uma excelente profissional que está ajudando muito a gente, mas o Caps não desenvolve só isso, eu tenho meu atendimento psiquiátrico, tenho a minha psicóloga. É muito bom, sou muito bem acolhida, muito bem atendida”, destaca.
Ruth Rodrigues também elogia o atendimento que recebe no centro e fala o quanto se sente feliz depois que começou a frequentar o espaço. “O Caps, além de ser uma família, tem profissionais excelentes que cuidam da gente com amor, com carinho, com respeito. É como eu digo: ‘não se cura com violência, se cura com amor’. Então esse evento é muito importante para mim, para todos nós, para estar divulgando o trabalho, até para a população do Marabá ver o que é o Caps realmente. Todos os trabalhos que estão aqui foram feitos por usuários do Caps que fazem trabalhos excelentes, coisas assim maravilhosas mesmo”, pontuou.
O evento na praça organizado pela Secretaria de Saúde, por meio do Caps, teve apoio do Serviço de Atendimento Especializado/ Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA), que fez testes rápidos de HIV, Sífilis, Hepatite B e C.
A psicóloga Paula Rodrigues fala da ligação da saúde física e mental. “Essa questão da luta antimanicomial vem para incorporar vários aspectos do indivíduo, então a gente liga a saúde mental, social e a saúde biológica também que não deixa de ser um pouco disso aqui que a gente está fazendo”, frisa.
O evento contou também com parceria da Universidade da Amazônia (Unama), Faculdade de Ciências Médicas do Pará (Facimpa) e Faculdade Carajás, que garantiram outros atendimentos de saúde, como aferição de pressão, teste de glicemia, escutas pulmonar e cardíaca, promovidos por estudantes, conforme ressalta Gabriel Landim, aluno do 5º período do curso de Medicina da Facimpa.
“Na faculdade, a partir do 5º período, nós começamos a fazer estágio no Caps. Então, nós fazemos hoje essa ação pra fazer o acolhimento dos nossos pacientes e das pessoas que também estão aqui na comunidade. Essa é uma ação que a gente faz em prol do conhecimento e pra conseguir promulgar esse conhecimento acerca da saúde mental. Eu me sinto muito feliz de conseguir participar dessa ação. Passar para a comunidade que nós estamos aprendendo hoje, porque afinal de contas nós somos os médicos do futuro aqui”, declara.
Texto: Fabiana Alves
Fotos: Paulo Sérgio
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