Dia do Músico: A música como profissão e remédio na trajetória de Gabriel Rocha
No pequeno comércio da avó paterna Maria Caroline, no bairro Francisco Coelho, em Marabá, um Gabriel Rocha de apenas quatro anos descobriu sua paixão pela música. Com um violãozinho de brinquedo, presente da avó, ele arranhava as primeiras cordas ao som de “Chuva no Telhado”, de Leandro & Leonardo. “Toda vez que canto essa música, lembro desse momento com a minha avó. Ela, aos 93 anos, ainda vai às minhas apresentações e é uma inspiração constante na minha vida”, conta emocionado o professor de violão da Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM).
Hoje, aos 38 anos, ele reflete sobre como aquele gesto simples marcou o início de uma trajetória que atravessaria gerações e transformaria vidas. Desde os primeiros acordes, Gabriel encontrou na música não apenas uma paixão, mas também um propósito. Ele também cita a influência musical do avô materno, Juvenal do Espirito Santo, que toca violão.
Na Fundação Casa da Cultura de Marabá, onde atua como professor há anos, ele ensina crianças e jovens a explorar o universo do violão. Muitos de seus alunos iniciam sem nunca terem tocado um instrumento, mas encontram na sala de aula um espaço de descobertas e superação. “É incrível ver como a música cria um impacto tão positivo na vida deles. Alguns chegam tímidos e saem confiantes, prontos para se apresentarem em público”, comenta.
A relação com a música tomou forma mesmo na igreja, onde Gabriel começou a tocar em 2001. “Meus primeiros professores foram os amigos da paróquia, que sempre me ajudavam, mostrando ritmos e acordes. Foi na igreja que percebi a força da música em transformar vidas”, relembra.
Ele acredita que a arte tem o poder de unir as pessoas e abrir novos horizontes. “A música me ensinou que as notas podem criar conexões que palavras às vezes não conseguem. É um privilégio compartilhar isso com outras pessoas”, reflete.
Neste Dia do Músico, Gabriel celebra não apenas sua jornada pessoal, mas também o impacto que a música tem na sociedade. Para ele, cada melodia é um convite para sonhar, e cada acorde tocado é uma lembrança de onde tudo começou: com um violão de brinquedo e uma avó que acreditava no poder da arte.
A decisão de viver da música
Até 2014, Gabriel dividia a música com um emprego em uma lotérica. “Tocar em casamentos começou como algo casual, mas logo percebi que era possível viver disso. Conversei com minha esposa, Tayane, e, mesmo com receios, ela me apoiou. Hoje, sustento minha família com orgulho, proporcionando conforto para ela e nosso filho, João Lucas, de 5 anos”, conta.
Desde 2016, Gabriel tem se dedicado ao ensino de música, começando com aulas na igreja e, mais recentemente, na Fundação Casa da Cultura. Em 2022, ele assumiu um projeto na extensão da fundação, em Morada Nova, batizado de Orquestra de Violão. Com 117 alunos, o projeto já realizou diversas apresentações, encantando plateias pela harmonia e impacto visual. “Ensinar música não é só transmitir técnica, mas também valores. A música transforma comportamento, autoestima e até a forma como os alunos enxergam o mundo”, afirma.
A música como remédio
Para Gabriel, a música tem um papel terapêutico, tanto para quem aprende quanto para quem ensina. “Muitos alunos vêm de contextos difíceis e é incrível ver como a música os ajuda a encontrar equilíbrio. Para mim, é mais do que profissão, é uma forma de fazer bem aos outros e a mim mesmo.”
Apaixonado por MPB, Gabriel se inspira em Djavan e Roupa Nova, cujas músicas fazem parte do repertório que ele ensina e toca. Uma de suas apresentações mais marcantes foi a prova para ingressar na Fundação Casa da Cultura, onde tocou “Sapato Velho”. “Essa música tem quatro modulações de tom, e foi um desafio técnico que me fez ser reconhecido. Foi ela que escolhi para apresentar no meu teste para entrar na Casa da Cultura e é uma música que amo”.
Hoje, Gabriel celebra a trajetória construída com perseverança e apoio familiar. Entre apresentações, aulas e momentos ao lado de Tayana Duarte Rocha, sua esposa, João Lucas, seu filho de 5 anos, e a avó Maria Caroline, ele acredita que a música é, acima de tudo, uma ferramenta de união. “Na música, ninguém está sozinho. É preciso parceria, harmonia e, sobretudo, paixão pelo que se faz”.
Neste 22 de novembro, Dia do Músico, Gabriel Rocha é um exemplo de que a arte pode ser muito mais do que uma profissão: pode ser um legado que conecta gerações e transforma vidas.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Sara Lopes / Arquivo