Na Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM), as histórias dos povos indígenas estão vivas nas memórias partilhadas, nas pinturas, objetos, trabalhos e palavras de quem ajuda a manter acesa a chama da cultura indígena no sudeste do Pará. Em alusão ao Dia dos Povos Indígenas, celebrado em 19 de abril, a Casa da Cultura realiza uma programação especial que reafirma sua relação histórica com diversas etnias da região.

A abertura da exposição “Aikewara – Memória e Resistência”, será no dia 22 de abril, no salão de exposições da FCCM, é o ponto alto da programação deste ano. A mostra é dedicada ao povo Aikewara, também conhecido como Suruí do Pará, que vive próximo a São Geraldo do Araguaia. A homenagem segue uma proposta iniciada pela instituição de valorizar, a cada edição da data, um povo específico entre os que têm relação direta com Marabá e arredores.

“É um dia de luta, de resistência, mas também de celebrar a força desses povos que seguem colaborando com a nossa cultura. Por isso, cada ano escolhemos homenagear um grupo indígena diferente da região”, explica Mirtes Emília, etnóloga da Casa da Cultura.

Uma relação construída com respeito

Desde sua criação, a Fundação Casa da Cultura de Marabá mantém laços de proximidade com diversas comunidades indígenas. Segundo Mirtes Almeida Manaças, essa relação vem se fortalecendo há décadas.

“Temos fotografias históricas dos anos 1980, 1990 e 2000, registros de líderes, pajés, curandeiros, artesãos, mestres da medicina tradicional. Muitos deles já não estão mais entre nós, mas suas memórias continuam vivas em nosso acervo”, conta.

O trabalho vai além da coleta e guarda de objetos: envolve o acolhimento de histórias que os próprios indígenas decidem compartilhar. “Eles vêm a Marabá e gostam de deixar aqui algo que consideram importante guardar: um artesanato, um relato, uma peça ritual. E isso se transforma em patrimônio cultural”, completa a etnóloga.

Hoje, a Fundação abriga o Núcleo de Arqueologia, Etnologia e Educação Patrimonial, que continua ampliando esse acervo e promovendo o diálogo entre pesquisadores e povos originários. “Recebemos com frequência doutorandos do Brasil e do exterior, como da França e Portugal, interessados em nosso material. Mas o acesso é feito com responsabilidade. Os pesquisadores assinam um termo ético e de compromisso para garantir que o material seja tratado com o respeito que merece”, ressalta.

Pesquisas e parcerias acadêmicas

O trabalho da Fundação também gera frutos no meio acadêmico. Há cerca de oito anos, a FCCM mantém uma parceria com a Universidade do Estado do Pará (UEPA), por meio da Engenharia Florestal e do Laboratório de Madeira. O resultado são pesquisas importantes sobre objetos rituais, como as burdunas, que em breve darão origem a uma nova exposição, prevista para junho deste ano.

“É gratificante ver alunas que começaram seus trabalhos de conclusão de curso com o nosso acervo e hoje estão no doutorado na USP, por exemplo. Isso mostra a força dessa conexão entre o saber tradicional e a ciência”, destaca Mirtes.

Celebração na Aldeia Sororó

Além da programação da Casa da Cultura, a Aldeia Sororó também realizará, nos dias 19 e 20 de abril, uma grande celebração aberta ao público. A comunidade Aikewara está preparando competições culturais e esportivas com intensa dedicação. “Eles estão treinando pesado, até puxando trator com corda. A festa promete ser linda”, diz a etnóloga. Quem tiver interesse em visitar a aldeia pode entrar em contato com a FCCM para receber orientações e apoio no deslocamento.

Neste Dia dos Povos Indígenas, a Fundação Casa da Cultura convida a sociedade a ouvir, ver e sentir as histórias que seguem pulsando nos cantos, pinturas e objetos deixados como legado por aqueles que primeiro habitaram esta terra. É um convite para reconhecer, valorizar e proteger essa memória viva que atravessa gerações.

Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Bruna Vidal e Divulgação FCCM