A Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM) iniciou nesta terça-feira, 22, a exposição fotográfica “Aikewara – Memória e Resistência”, com imagens captadas pelo fotógrafo indígena Mairá Filho. A mostra ocorre no Salão de Exposições da FCCM e apresenta cerimônias e aspectos do cotidiano das comunidades Aikewara. A programação é uma forma de celebrar o Dia dos Povos Indígenas em 19 de abril e está inserida no contexto do I Circuito de Relações Étnico-Raciais da FCCM, que busca fortalecer as culturas presentes nas regiões sul e sudeste do Pará.

Segundo Mirtes Manaças, historiadora da FCCM e uma das organizadoras da exposição, as fotografias apresentadas ajudam na compreensão do cotidiano e da cultura das comunidades indígenas Aikewara da Terra Indígena Sororó e são uma homenagem ao trabalho de Mairá Filho.

“Temos fotografias, principalmente do Mairá Filho, que tem investido muito na aprendizagem, no trabalho de registro de cotidiano da comunidade. Vocês vão ver que aqui tem cerimônias tradicionais, palestras ambientais, educação ambiental dentro da comunidade, atividades das mulheres, famílias com suas pinturas, seus adornos, muitos momentos da comunidade”, ressalta.

Estudantes da Escola Paulo Freire, no bairro Belo Horizonte, visitaram a exposição, entre eles, Thiago Pinheiro, de 12 anos. Para ele, as fotografias ajudam a compreender um pouco da história do Brasil.

“As fotografias são muito importantes para a cultura indígena em si. Elas mostram a união que esse povo tem com seus integrantes, mostra como eles vivem, a importância, seus rituais, sua cultura, mostra os povos originários do Brasil, que o Brasil não é só os colonizadores que chegaram aqui, mas sim todo aquele povo que já estava aqui”, observa.

Seane Xavier, professora de Língua Portuguesa, acompanhou os 28 alunos do 7º ano na exposição. Ela ressalta o quanto a exposição aproxima os adolescentes de outras culturas, principalmente as que estão presentes na região

“O objetivo foi conhecer um pouco da cultura, tentar aproximar os alunos dessa cultura que, às vezes, parece tão distante, a gente só vê na TV, e também porque recebemos um pouco de alunos indígenas na escola. Então, para trabalhar a questão da educação e do respeito a uma outra cultura. É muito importante, a gente achou, essa aproximação dessa exposição, de conhecerem um pouco de como os indígenas vivem. Para os alunos terem noção de que são culturas diferentes, mas que fazem parte do nosso ambiente”, comenta.

A diretora do Museu Municipal Francisco Coelho, Lara Luz, relembra que o I Circuito de Relações Étnico-Raciais iniciou com a mesa-redonda sobre Mulheres e Práticas Sustentáveis na Aldeia, que ocorreu no museu e, agora, reforça a temática desta primeira edição com a exposição fotográfica.

“Neste primeiro circuito, estamos com foco nos povos indígenas, pensando na pluralidade étnica da região de Marabá e sudeste do Pará. Através da exposição artística, a gente consegue visualizar, fazer essa visita  à aldeia e poder sentir também como é o ambiente, como é a rotina, a cultura e a identidade dessa população”, destaca.

A exposição também retrata algumas atividades realizadas pela FCCM, que tem projetos junto às comunidades. Entre os projetos estão o Programa de Aquisição de Alimentos, em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência Social, Proteção e Assuntos Comunitários (Seaspac), que fortalece a produção de alimentos da agricultura familiar por meio de cerca de cem mulheres indígenas. Uma parte da produção vai para a merenda escolar e outra para a comunidade, por exemplo. A presidente da FCCM, Thaís Cariello, comenta sobre o intuito da exposição.

“Muitas pessoas não têm oportunidade de visitar uma terra indígena, o lugar onde moram. Aqui, eles vão ter a experiência de visualizar, de poder encontrar a cultura deles aqui nesse ambiente. A Casa da Cultura tem uma atividade muito forte, com o pessoal da etnologia, que faz um trabalho há muito tempo com os indígenas, com o Programa de Aquisição de Alimentos, muito importante, que dá dignidade para esses povos. E a gente se aproxima dessa cultura que faz parte da nossa identidade, da nossa raiz”.

Outro projeto é a cozinha comunitária, em parceria com o Ministério Público, em que pessoas da comunidade produzem uma sopa para idosos e crianças. Mirtes Manaças ressalta sobre outro projeto realizado junto às comunidades indígenas da TI Sororó, o Reviver.

“Nós temos há muitos anos o acompanhamento e registro da cultura Aikewara. Nos últimos 8 anos, nós trabalhamos em parceria com a Seagri, também em um trabalho de recomposição de áreas que foram queimadas por incêndios advindos das fazendas vizinhas. Nós estávamos focados em replantar castanheiras”, conta.

A exposição fica aberta até a segunda semana de maio no Salão de Exposições da FCCM, de segunda a sexta, das 8h às 17h.

Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Sara Lopes