Covid-19: CAPS orienta sobre saúde mental em transmissão ao vivo
A transmissão foi realizada no dia da Luta Antimanicomial, lembrado no dia 18 de maio
A saúde mental e a importância de reviver a história reforçando a luta contra os manicômios foram os principais assuntos abordados na trasmissão ao vivo do Centro de Atenção Psicossocial em Marabá (CAPS III), no perfil da instituição no Facebook, nessa segunda-feira (18). A data é simbólica porque o 18 de Maio é o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Devido à pandemia do novo coronavírus, as programações foram readequadas para o meio digital.
A mediação da live ficou por conta do psicólogo Lucas Scoot e da educadora física Laila Fonseca e contou com a participação dos profissionais do CAPS, o médico Charles Roosevelt, o enfermeiro Allan Raniere, o psicólogo Diego Vieira e o terapeuta ocupacional Rodrigo Gentil, além da enfermeira Sandra Teixeira, que trabalha na ala psicossocial do Hospital Municipal de Marabá. Houve bastante interação do público, inclusive de pessoas de outros países, como a Irlanda.
“A luta antimanicomial vem pra derrubar o preconceito, tirar o estigma de que a pessoa nessas situações não pode conviver em sociedade, que ela não pode trabalhar. Derrubamos as barreiras físicas, da existência dos manicômios, mas a discriminação permanece. E a gente observa um contra movimento, querendo que os manicômios voltem, e a gente já viu que não deu certo, deixaram uma mancha na história. O desafio é não permitir que isso volte”, destacou o enfermeiro Allan Raniere, em resposta a uma internauta.
Allan explicou que, durante um longo período da nossa história, as pessoas com transtornos mentais viveram em uma política de exclusão, com os manicômios sendo usados para esconder essa parcela da população. Ele destaca ainda que as pessoas valiam o que produziam, com isso, acabavam sendo marginalizadas. Assim surgiram os manicômios, locais pra onde elas eram encaminhadas, mas não recebiam tratamento adequado, acompanhamento e fiscalização.
O profissional reitera que com o avanço da ciência e dos direitos humanos foi se desenvolvendo uma melhor percepção sobre o tema, havendo maior mobilização dos profissionais, bem como a construção de um novo modelo de política pública voltada para a convivência, sem a privação da liberdade, sem a retirada dos direitos civis e possibilitando, inclusive, que as pessoas pudessem ser produtivas. Alan enfatizou também que o CAPS faz parte desse novo modelo de resgate e ressocialização das pessoas com sofrimento mental.
Da mesma forma, o médico Charles Roosevelt, esclareceu sobre a importância da Luta Antimanicomial no combate a discriminação. “Serve para a gente conseguir reafirmar a variabilidade, diversidade das pessoas. O dia é para lembrar da diversidade da forma de pensar, de encarar a vida, de ouvir, de ver a vida”, disse o médico.
O terapeuta ocupacional Rodrigo Gentil, ressaltou que entre as atividades ofertadas pelo CAPS, existem as terapias que servem para resignificar a vida e tratar o paciente por meio de atividades. “A gente busca resgatar a ocupação perdida, resgatar a importância de que agora precisa tomar as medicações e para isso é preciso também disciplina dos horários. A gente trabalha esquemas de rotina, horários. O principal é fazer com que o paciente seja inserido numa sociedade de forma ocupacional”, enfatiza.
Por outro lado, Sandra Teixeira comentou sobre o trabalho da ala psicossocial do HMM, lembrando que o espaço surgiu em 2014, e atende outros sete municípios por meio de regulação. Ela informou ainda que os pacientes encaminhados à ala, são demandadas pelo SAMU e CAPS, quando não conseguem a estabilização do usuário do serviço. “A ala psicossocial não trabalha somente as medicações, mas diversas terapias que levam o paciente a empoderar-se, a conhecer o transtorno, estimular o equilíbrio, a concentração, e passe a se enxergar como sujeito, como pessoa que pode participar da sociedade e voltar a se estabilizar e, então, devolvemos para a rede”, ponderou.
Os profissionais esclareceram que, durante a pandemia, o CAPS continua funcionando de segunda à sábado, mantendo apenas algumas atividades, obedecendo as medidas de prevenção, a exemplo, o serviço de acolhimento, voltado às pessoas que buscam o primeiro atendimento psicossocial; bem como situações de crises, farmácia e renovação de receitas. Estão suspensas todas as atividades coletivas, como o teatro.
Os internautas pediram dicas para cuidar da saúde mental nesse momento, entre as orientações estão: boa alimentação, prática de exercício físico, bom horário de sono; manter conversas com amigos, familiares mesmo de forma virtual.
Aos pacientes do CAPS, a recomendação é dar continuidade as atividades ocupacionais realizadas no centro agora em casa, tais como, o crochê e a pintura, entre outras.
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Sérgio Barros