Duas datas importantes para a comunidade surda são comemoradas este mês: o Dia Nacional de Educação de Surdos, em 23 de abril e o Dia Nacional de Libras (Língua Brasileira de Sinais), no dia 24 de abril. Estas datas têm como finalidade sensibilizar as pessoas para a situação das pessoas surdas e da sua linguagem em específico.

Em Marabá, quem responde pelo atendimento a esse público é o Centro Especializado na Área da Surdez (Caes) que trabalha em dois campos de atuação – o pedagógico e o social. No pedagógico, o centro atende 54 surdos e deficientes auditivos com o ensino de Libras, Português e Matemática, como explica a coordenadora pedagógica Georgina Pinheiro.

“A Libras é a primeira língua, a Língua Portuguesa como segunda língua do surdo e a Matemática também que entra como importante para seu dia a dia, para sua vida como um todo”, elucida. Ela ainda comenta que no Caes, os surdos oralizados também podem contar com uma professora alfabetizadora, que os ensina a ler e escrever.

Os serviços ainda vão além dos muros, com o atendimento em escolas da zona urbana e rural, onde os professores do ensino comum recebem formação e os surdos e deficientes auditivos recebem acompanhamento.

“A gente também leva formação para os professores e para toda a escola. Então o Caes entra com essa proposta de formação, de oficinas pedagógicas e o curso de Libras, onde ela vai para dentro da sala de aula do aluno surdo, com o objetivo de levar comunicação aos colegas para poder conversar com esse aluno surdo e o professor também”, fundamenta.

No campo social, o Caes atua com a Central de Interpretação de Libras (CIL), que oferece atendimento aos surdos matriculados ou não no Caes em serviços como Detran, bancos, delegacia, hospitais, entre outros. “A CIL faz esse acompanhamento com o intérprete de Libras levando essa comunicação entre o ouvinte e o surdo. Nós temos a nossa coordenadora geral, que é a Michelly, que também acompanha algumas ocorrências que tem até na madrugada em hospital, em delegacia. É importantíssimo não só para a comunidade, mas para a família também, porque o Caes entra com esse suporte, ele entra abraçando o surdo, pois a falta de comunicação é uma barreira e a gente busca derrubar essa barreira”, informa Georgina.

O professor de Libras do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, Diego Fiúza, é surdo e trabalha no Caes há cinco anos. Ele conta que quando chegou em Marabá, o ensino de Libras ainda era pouco difundido.

“Antes não se tinha esse incentivo, então era muito uso de gestos. Eu percebi a importância de ter um professor que ensinasse a língua de sinais, que estimulasse. Não tinha ainda o Caes. Depois foram desenvolvendo, estimulando esse aluno, trazendo adaptações. Eu percebia que não tinha adaptações também nas escolas, não se tinha essa inclusão. Aqui no Caes, eu percebi o quanto os estudos são incentivados na questão da aprendizagem. Hoje aqui a gente consegue mais rápido essa aquisição da língua de sinais e essa comunicação junto com o estudo, traz esse bate-papo, esse compartilhamento entre a comunidade surda”, revela.  

Luciano Gonçalves também é surdo e professor de Libras, do 1º ao 5º ano e tem 10 anos de atuação na Prefeitura de Marabá. Ele lembra que teve muita dificuldade para aprender Libras e que hoje o Caes ajuda muito nesse ensino.

“Hoje eu trabalho com o público de alunos surdos, trazendo o ensinamento da Língua de Sinais, para que ele possa ter o desenvolvimento pessoal, integral. Tive muita dificuldade para aprender Libras e Português na minha infância, e hoje, aqui no Caes, trabalhando com a Michelly, que sempre está apoiando a comunidade, sempre nos incentiva a continuar nessa educação, nessa formação continuada, estar sempre me capacitando, eu vejo a importância do centro, de ter as pessoas surdas aqui, os alunos com deficiência auditiva se desenvolvem, tanto na oralização como na Língua de Sinais. Então isso pra mim é gratificante”, enfatiza.

Michelly Matoso, coordenadora geral do Caes, complementa dizendo que o centro representa a inclusão social das pessoas surdas.

“A aquisição da Língua de Sinais, traz o acesso ao conhecimento, à comunicação e ao saber, promovendo a inclusão social, esse desenvolvimento integral da pessoa surda”, expressa.

Atendimento e diagnóstico

Para ser um aluno do Caes, o surdo ou deficiente auditivo (DA) é indicado pela própria escola onde ele estuda, por alguém da comunidade onde vive ou por outro surdo. Quando chega à unidade, ele passa por um diagnóstico feito pelos professores e coordenadores.

“Esse diagnóstico é que vai dar pra gente o norte de como a gente vai trabalhar com esse aluno. Quais são as experiências que esse aluno tem. Ele traz uma bagagem, ele traz uma experiência de vida. Então quando ele chega aqui, dentro desse diagnóstico, a gente procura saber qual a bagagem que ele está trazendo, qual a dificuldade que ele tem, que a gente pode trabalhar”, detalha a coordenadora.  

Depois disso, ele começa a fazer as aulas duas vezes por semana, de acordo com a necessidade dele, no contraturno do horário escolar, ou seja, se ele está no ensino regular de manhã, ele vai para o Caes à tarde e voce-versa. “Se é um surdo que ele não conhece a Libras, se é um surdo que ele nunca teve contato com a Libras, que ele só usa gestos caseiros para se comunicar com a família ou com a comunidade, a gente coloca ele no ensino da Libras e o tempo de aprendizado depende da presença dele no Caes”, garante.

Serviços

Para fazer acompanhamento no Caes, os interessados podem se dirigir ao local para fazer a matrícula.

Horário de funcionamento: 7h30 às 11h30 e de 13h30 às 17h30

Endereço: Fl 26 Quadra 01 Lote 02 (atrás da OAB) – Nova Marabá

Documentos necessários: Laudo médico, RG, CPF, comprovante de residência e nome da escola em que está matriculado.

Texto: Fabiana Alves
Fotos: Paulo Sérgio