“Como funciona a Saúde?”: Em 2022, SAMU atendeu mais de 700 ocorrências mensais
Um dos sons mais característicos no trânsito com certeza é a sirene de uma ambulância. Em grande parte das vezes, quando os motoristas olham pelo retrovisor é a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), pedindo passagem seja para chegar ao local onde a equipe foi solicitada ou para encaminhar pessoas atendidas ao hospital correspondente ao caso.
Em Marabá, o SAMU foi criado em 2005. Já a Central Regional de Regulação das Urgências na Região de Carajás (CRRU) foi criada em 2013. A Central é responsável pelo atendimento do SAMU em 17 municípios da região somando mais de 930 mil pessoas cobertas pelo serviço.
O atendimento começa quando a pessoa liga para o número 192. Quem atende é um técnico auxiliar de regulação médica, o telefonista. Esse é o procedimento inicial: a regulação.
Uma das pessoas que executa esse trabalho no SAMU de Marabá é Nádia Coelho, que trabalha há mais de dois anos no serviço. A profissional explica que no atendimento existe um protocolo a ser seguido. No caso de acidentes, é preciso ser o mais breve possível.
“Nós que somos os telefonistas, fazemos a primeira parte da triagem, que é atender o solicitante, perguntar para ele qual é a urgência, pegar a localização dessa ocorrência, que pode ser uma ocorrência de urgência médica ou pode ser uma ocorrência de acidentes. Aí nesse caso o médico que vai avaliar se precisa ou não ir a ambulância. Todas as ligações são encaminhadas para o médico”, detalha.
Ela ainda lembra que quando começou a trabalhar no SAMU percebeu que é um dos trabalhos mais humanos que há na área de assistência. “E a forma como você faz aquele atendimento influencia muito no resultado, na recuperação ou não daquela pessoa que está na ponta, que não entende como é o serviço, às vezes está estressado, nervoso, agressivo. Para mim é um trabalho gratificante. Eu gosto muito de trabalhar aqui. Sou muito feliz nesse trabalho”, complementa.
O próximo passo do atendimento diz respeito ao trabalho do médico, que atua em duas frentes, tanto na regulação quanto na intervenção.
Na Central de Regulação, o médico realiza a segunda parte do atendimento, que pode ser uma orientação, uma consulta com prescrição ou o envio de uma ambulância até o local da ocorrência.
“No segundo momento, ele atua dentro de uma unidade avançada, a UTI móvel, que existe no SAMU Marabá. Dentro da UTI móvel, ele faz transferência inter-hospitalar de pacientes graves, pacientes a nível de UTI, faz o atendimento pré-hospitalar, que são os atendimentos mais graves que ocorrem no município, bem como atendimentos a casos clínicos graves, quando se tem uma parada cardiorrespiratória, afogamento, são os atendimentos bem críticos”, explica o coordenador médico do SAMU, Ednaldo Pereira.
Quando o médico que atua na regulação constata que é necessário o envio de uma ambulância, ou seja, a intervenção, quem faz o contato com os veículos é o rádio operador. Na central, o servidor Rener Silva opera a comunicação realizada por meio de uma frequência específica utilizada pelo serviço.
“Meu protocolo aqui no SAMU é enviar as ambulâncias. Quando essa equipe é enviada até o local, eu sou a pessoa que dá a logística, por onde ir, como ir, como chegar mais rápido, todas as orientações de mapa. Hoje em dia, a gente conta com muita tecnologia, mapas que ajudam a gente a facilitar o endereço para o condutor chegar mais rápido. Facilitar a vida tanto do condutor quanto do paciente”, expressa.
O SAMU Marabá conta com dois tipos de ambulâncias, que são acionadas de acordo com a avaliação feita pela regulação. A primeira é a Unidade de Suporte Básico (USB), que atende casos de urgência onde não há risco iminente de morte, e a Unidade de Suporte Avançado (USA), que atende os casos mais graves, com risco de morte. Essa unidade conta com UTI móvel.
As três Unidades de Suporte Básico são compostas por técnico de enfermagem e pelo condutor socorrista. Já a equipe da Unidade de Suporte Avançado é composta por enfermeiro, médico e condutor socorrista. Os médicos presentes nas unidades atuam coordenados com o médico da regulação, a fim de buscarem as melhores decisões, como por exemplo, qual o hospital mais adequado para o encaminhamento do paciente.
Ambas são equipadas com kit de vias aéreas, com diferencial na USA onde há os instrumentos de intubação; kit de acesso venoso, caso seja ministrado soro ou medicação; pranchas; colar cervical; talas de imobilização; material para nebulização; atadura; e outros materiais. Na USA, também há o cardioversor (aquele aparelho médico que aplica choque elétrico sincronizadamente sobre o coração para restaurar impulsos elétricos) e respirador.
São 85 profissionais que atuam no SAMU Marabá em regime de escala, 24 horas por dia, sete dias por semana. Dos 17 municípios atendidos, oito possuem USB’s, que ficam sob coordenação da Central de Regulação em Marabá.
Vale ressaltar que no município, além da Central de Regulação, existem bases do SAMU no Hospital Municipal de Marabá e no núcleo São Félix, inaugurada em novembro de 2022, equipada com ambulância de suporte básico e atendimento 24 horas.
Em 2022, o SAMU Marabá atendeu, por mês, em média 713 chamadas, com cerca de 24 ocorrências atendidas diariamente, apenas em Marabá.
Um dado importante é que a maioria dos atendimentos realizados pelo 192 são a escuta médica. Nesses casos, os médicos fazem apenas orientações aos usuários no outro lado da linha. Foram mais de 50 mil escutas médicas registradas em 2022 referentes à região de cobertura do SAMU.
Já em relação à intervenção, a coordenadora do SAMU Marabá e enfermeira, Walternice Vieira, que trabalha há 16 anos no serviço. Ela ressalta que a maioria dos atendimentos do serviço não é voltada para acidentes, como muitos podem pensar.
“O nosso carro-chefe além da escuta médica, não é o trauma, não é o acidente, são as ocorrências de cunho clínico, o que a gente chama, que é o diabetes, hipertensão, o derrame, o AVC, que são os que a gente atende principalmente no nosso dia a dia. Em segundo lugar, os acidentes; em terceiro, as transferências inter-hospitalares”, informa a coordenadora.
Essas ocorrências não são resultados necessariamente de um trauma, mas de uma disfunção no organismo da pessoa. Esses casos podem ser compreendidos, por exemplo, por doenças crônicas e crises convulsivas, que são tratadas como urgência clínica.
No dia a dia das equipes na rua, todos os componentes fazem parte dos primeiros socorros, incluindo o condutor socorrista, que não é apenas um motorista. Todos são capacitados para atuar diante das ocorrências.
José Borges trabalha há quase 15 anos como condutor socorrista no SAMU. Ele relata sobre o espírito de equipe que precisa nortear o trabalho diário.
“O que importa no nosso serviço é a seriedade. Esse condutor não pode chegar no acidente, no atendimento de uma parada cardiorrespiratória, por exemplo, e dizer ‘eu sou só o motorista’. Então, o nosso serviço é equipe. Você vai de corpo e alma”, comenta.
A coordenadora Walternice Vieira destaca a importância do SAMU e o diferencial do serviço prestado à população pelas equipes. “Eu costumo falar que somos diferenciados do restante da Saúde, porque ao invés de esperar que o paciente venha até nós, a gente vai até o paciente. Então, a gente sempre adentra as casas, pega as pessoas em seus piores momentos, naquele momento de desespero e a gente, além de prestar o socorro, tem que levar calma, conhecimento e acalmar para poder fazer o nosso trabalho bem feito”, ressalta.
Pedimos para que as pessoas coloquem as mãos na consciência e não passem trotes. Em 2022, recebemos 8.500 ocorrências na Central e nós tivemos 9.700 chamados que foram trotes.
Um pedido especial que a coordenadora faz à população é que não realizem trotes porque isso dificulta que o atendimento do SAMU chegue a quem realmente precisa. “Sempre pedi para que coloquem as mãos na consciência, as pessoas que ainda insistem em passar trote, porque na nossa Central nós tivemos 8.500 ocorrências no ano de 2022 e nós tivemos 9.700 chamados que foram trotes. Então, pedir realmente que coloque a mão na consciência nesse momento, alguém pode estar realmente necessitando dessa viatura para que consiga sobreviver”, finaliza.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Natália Costa