Cultura: Biblioteca Comunitária no PA Belo Vale atrai a comunidade para leitura e outras atividades
No Dia Nacional do Livro, 29 de outubro, conheça a Biblioteca Comunitária que transforma vidas na área rural, com a oferta de mais de 4 mil livros. Projeto criado a partir de doações, durante a pandemia em 2020, para oferecer mais diversão e cultura ao local
No coração da zona rural de Marabá, no assentamento PA Belo Vale, um projeto muda a realidade de crianças e jovens: a Biblioteca Comunitária, idealizada e mantida pela escritora e professora Glecia Sousa. Iniciada em 2020, durante a pandemia, a biblioteca começou de forma simples, a partir do acervo pessoal da professora. Hoje, graças a parcerias e doações, o espaço conta com mais de 4 mil livros e oferece muito mais do que apenas leitura, promove oficinas, atividades culturais e eventos que envolvem toda a comunidade.
A iniciativa surgiu quando estudantes, em plena adaptação ao ensino remoto, começaram a procurar Glecia em busca de livros e materiais didáticos.
“Eles olhavam para o meu acervo e aquilo despertava neles a curiosidade pela leitura”, relembra a professora. Foi então que ela decidiu compartilhar seu acervo com os jovens do assentamento. Em 2021, a biblioteca ganhou forma oficial e desde então tornou-se um centro de cultura essencial para o PA Bela Vista.
Além de abrir as portas de sua casa para a comunidade, Glecia organizou um espaço dedicado exclusivamente para a biblioteca, construído com recursos de editais que ela venceu.
“Com o apoio da comunidade e de parceiros, conseguimos ampliar a biblioteca, construir o espaço físico e criar condições para desenvolver diversas atividades com as crianças e adolescentes”, conta.
Entre os parceiros, estão o professor Ayrton Souza, que doou mais de 600 livros, e Gabi, do canal Conta Gabi, que contribuiu com 300 livros e prateleiras. Hoje a biblioteca já conta com mais de 4 mil livros. Muitos foram doados também pela própria Biblioteca Municipal de Marabá.
Maria Vitória, 12 anos, conta que seu livro preferido passou a ser O Pequeno Príncipe.
“Tem três anos que participo aqui. É muito bom Eu já gostava de ler, mas aqui passei a ler ainda mais. Gostei muito do Pequeno Príncipe. Mas estou sempre lendo livros novos”, ressalta.
Hoje, a biblioteca é um ponto de encontro semanal, especialmente aos domingos, dia reservado para as atividades fixas. Atualmente cerca de 39 crianças e adolescentes, de 3 a 18 anos, participam regularmente. Eles têm acesso a uma rica programação, que inclui oficinas de leitura, escrita, atividades culturais e gincanas educativas.
Glecia explica que a leitura é o ponto central, mas também desenvolvemos outras atividades como festas juninas, Natal Encantado e oficinas para mulheres.
O impacto do projeto é evidente na vida de jovens como Sólon de Oliveira, 18 anos, um dos primeiros participantes.
“Eu faço parte da biblioteca desde o início e ela mudou muito a minha vida. Aqui, a gente aprende de um jeito diferente, conhece pessoas, descobre histórias. Para mim, a biblioteca é um lugar de aprendizado e oportunidades”, afirma o jovem.
A biblioteca lançou seu primeiro livro: “A Biblioteca no Campo“, escrito pelos próprios jovens que frequentam o espaço. A obra aborda temas como a violência contra a mulher e o meio ambiente. “Foi incrível ver o resultado do trabalho deles. Eles participaram de oficinas e escreveram a partir das experiências que tiveram aqui”, orgulha-se Glecia.
O lançamento ocorreu em julho deste ano e é apenas o começo para os novos escritores da zona rural. O livro aborda algumas temáticas como a violência contra a mulher, o lugar onde vivem, a questão ambiental e inclui o primeiro texto que eles produziram.
O primeiro texto foi produzido a partir de uma Oficina de Doces e Salgados, feita na Biblioteca Comunitária, sob o tema Ler, comer e brincar. Os jovens produziram os doces e depois escreveram o texto a partir dessa experiência. Em seguida, foram realizadas outras oficinas com outras temáticas para que eles pudessem escrever. São vários textos sobre temas diferentes.
Para Ivanilde Dantas de Oliveira, mãe de Maria Júlia, 6 anos e Sólon, 18, a biblioteca oferece um novo mundo de oportunidades.
“É maravilhoso ver meus filhos envolvidos nesse projeto. Muitos não teriam acesso a livros ou eventos culturais se não fosse por Glecia e a Biblioteca”, comenta Ivanilde, que contribui com as atividades, na organização dos eventos e na costura das roupas para festas.
O projeto continua a crescer, com planos para novas oficinas, rodas de conversas com escritores e eventos culturais que fortalecem ainda mais a conexão entre a leitura e a comunidade. “Nós estamos sempre buscando novas formas de incentivar essas crianças e adolescentes a lerem e a escreverem. A biblioteca é um espaço onde eles podem sonhar e transformar esses sonhos em realidade. Esse mês temos programação para o mês das crianças, com gincana no dia 27, com questões sobre Geografia, Matemática e outros temas”, conclui Glecia.
Talita de Sousa Marques, 9 anos, está participando do Desafio Literário da Biblioteca Municipal e já leu mais de 15 livros apenas esse ano.
Há dois anos que estou na Biblioteca. Gosto muito das oficinas e das atividades. É bom porque a gente lê e faz amizades”, comenta.
A Biblioteca adquiriu um equipamento para os alunos poderem filmar. Quem participa do Desafio tem uma leitura mais direcionada e para os outros, a temática é mais livre.
Maria Isabela, 16 anos, também participa do Desafio Literário pela primeira vez. São 10 livros que ela deve ler. Para depois apresentar uma resenha em forma de vídeo.
“Eu gosto da biblioteca, entrei há mais ou menos um ano. Agora participo do Desafio e fiz amigos. É muito legal. Li também o livro da professora Glecia e é muito bom”, destaca.
Glecia possui 5 livros escritos, sendo 4 de poemas e um conto juvenil. Além disso, é responsável por mais dois livros organizados com os alunos.
A Biblioteca Comunitária do PA Bela Vista é mais do que uma simples coleção de livros. É um espaço de transformação, onde a leitura e o conhecimento tornam-se ferramentas poderosas de inclusão e desenvolvimento para toda a comunidade.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Arthur Constantino, sob orientação do repórter