Mab111: Biblioteca Orlando Lobo promove roda de conversa entre alunos de Brejo do Meio e indígenas
Na manhã desta quarta-feira, 17, a Biblioteca Orlando Lima Lobo promoveu uma roda de conversa com alunos da Escola Raimundo Gomes, da Vila Brejo do Meio. “Uma conversa sobre saberes ancestrais” contou com a participação dos irmãos indígenas Penpkoti Valdenilson e Kupeprãmre Topramre, filhos da cacique Kátia Silene Tõnkyre, da aldeia indígena Akrãtikatêjê, que compartilharam com os estudantes um pouco da história de seu povo e suas vivências.
A ideia desses encontros surgiu para celebrar o aniversário de Marabá, que transcorreu em 5 de abril. Ao longo do mês, a biblioteca recebeu personalidades ligadas à história e cultura marabaense, que contaram para estudantes suas trajetórias junto à cidade. Segundo Evilangela Lima, coordenadora da biblioteca, a ideia é proporcionar às visitas das escolas uma experiência que vai além de apenas passear entre os livros.
“Tem que ser uma visita construtiva, que surte um efeito para a escola e para a sociedade. Há tanta gente com ideias boas, experiências e vivências, que vão contribuir com a nossa dinâmica. A intenção com a visita dos nossos convidados de hoje é para que eles mostrem suas experiências, a vivência, a forma de pensar e que os alunos possam ver como é possível se relacionar com diferentes culturas de forma harmoniosa, respeitosa”, explica.
Penpkoti Valdenilson avalia que esses momentos de conversa e troca de ideias com os alunos são necessários para desmistificar determinadas percepções que as pessoas e sociedade em geral têm sobre os povos indígenas.
“A gente vem tirar a curiosidade, tirar essa visão romantizada dos povos indígenas. É um novo modo de vida, uma nova organização, não deixando de lado as nossas práticas culturais, nossos rituais, mas também sempre fazendo esse laço, essa costura da nossa cultura com a globalização. O objetivo é mostrar que a gente não deixou de lado, mas que também estamos inseridos e buscando esse conhecimento para a gente responder por nós mesmos. Para tirar essa visão da sociedade em si, esse estereótipo, o preconceito com os povos indígenas, como se referem os livros didáticos, mostrar a realidade por meio das nossas falas”, ressalta.
A equipe da Escola Raimundo Gomes levou 31 estudantes entre 6º e 9º anos para visitar o Museu Francisco Coelho e a Biblioteca Orlando Lima Lobo. Os estudantes foram selecionados entre os que mais participaram da sala de leitura da escola e mais leram livros durante o bimestre. A professora da sala de leitura, Rivanir Santos, comenta sobre o quanto são necessários para os estudantes esses momentos fora da sala de aula.
Escola Raimundo Gomes
“É muito importante essa aula diferenciada, digamos que até mesmo para o próprio conhecimento deles para estimulá-los a fazer essa leitura e conhecer sua própria cultura. Em relação aos povos indígenas, é importante, visto que nós estamos na Semana dos Povos Indígenas”, destaca.
Liandra Micaelly Lima tem 12 anos, está no 6º ano e fez parte da turma de alunos que participou da visita. Ela demonstra bastante interesse em saber mais sobre as vivências e cultura do povo indígena.
“Eu acho muito importante ouvir e falar sobre os indígenas, apesar que tem muitas pessoas que têm preconceito com a nação indígena. Chamou minha atenção sobre o dia 19 de abril em que se comemora o Dia do índio, que eles também não querem ser chamados de índios, mas sim de indígenas”, compartilha a estudante.
Durante o bate-papo, os estudantes puderam ouvir um pouco da história do Povo Gavião e de sua relação com a cultura não indígena, por exemplo, ao nomear na língua indígena objetos como celular e notebook. Além disso, também falaram sobre como foi para a mãe deles, a cacique Kátia Silene, tornar-se a chefe da aldeia, em uma estrutura que até então só poderia ser liderada por homens.
Kupeprãmre Topramre afirma que o dia 19 de abril, muito além de ser um momento de celebração das conquistas, é também de reafirmar e expressar a cultura indígena, mesmo com as transformações nessa troca de experiências com a sociedade não indígena.
“A cultura do indígena é baseada no respeito, então, nós sempre respeitamos o outro para sermos respeitados, mas durante muito tempo não foi dessa forma. Para sermos reconhecidos e chegarmos aqui, hoje, nessa sociedade que é diferente da nossa, tivemos que ir à luta. Estamos aqui, somos indígenas, apesar de que para nos mantermos enquanto tal, tivemos que nos apropriar daquilo que não é nosso para poder entender o que o outro quer conosco. E ao mesmo tempo podemos dizer a forma como queremos ser enxergados, vistos. É um trabalho longo e demorado, mas temos fé e esperança de que, na medida do possível, pouco a pouco, com paciência vamos conseguir caminhar para algo melhor”, conclui.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Secom