Mãe em Foco: Amor, resiliência e cumplicidade entre mãe atípica Jéssica Batista e o filho Enzo
A frase “Te amo muito lugar” é um dos símbolos desse afeto
“Te amo muito lugar”. Não, a frase que você leu não possui erro na escrita. A frase é um dos símbolos do amor da mãe Jéssica Batista pelo filho Enzo Gabriel, 8 anos. Mas para entender essa história, vamos antes conhecer essa mamãe e o filho.
Jéssica Batista, 32 anos, é uma mulher de determinação e amor incondicional, cuja jornada na maternidade começou em uma fase de vida em que muitos ainda estão descobrindo a si mesmos. Mineira de Uberaba, morava em Tapira, Minas Gerais, uma cidade de pouco mais de quatro mil habitantes, quando aos 23 anos, engravidou, provocando uma reviravolta em sua vida.
“Eu sempre tive o desejo de ser mãe, mas não esperava naquele momento”, compartilha Jéssica, lembrando dos sonhos de infância que incluíam uma família amorosa. A notícia da gravidez veio como um choque, apesar das precauções tomadas. No entanto, logo após o susto inicial, o amor pelo filho começou a florescer.
O nascimento de Enzo foi especial, mas também marcado por preocupações médicas, pois ele eliminou mecônio (primeiras fezes do bebê) antes do nascimento.
“Isso poderia gerar uma série de complicações e o parto tinha que ser feito rápido, mas morávamos em uma cidade pequena e tivemos que ir para outra cidade. Tive muito medo de perder ele. Foi um tempo para aceitar a gravidez e, de repente, depois disso tudo, perdê-lo. Quando ele nasceu que pude sentar, tocar, ver que era parecido comigo, foi um momento mágico. Já veio esse amor incondicional. Já mudou todo sentimento de susto, medo, duvidas”, relata a mamãe.
Desde cedo, surgiram indícios de que algo estava diferente com o pequeno Enzo. Jéssica conta que com seis meses, a pediatra já começou a observar diferenças no comportamento do filho. Ela relembra os primeiros meses de investigação, as visitas ao médico e as incerteza. Enzo possui Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas o diagnóstico oficial só veio acontecer anos depois, já morando em Marabá.
“Foi um processo de aceitação e entendimento”, diz sobre o diagnóstico de autismo de Enzo. As dificuldades eram evidentes, mas o amor e a dedicação de Jéssica só cresciam. A jornada com o filho, desde então, tem sido uma mistura entre desafios e momentos de carinho e felicidade.
Ser mãe de uma criança especial como Enzo, exigiu adaptação e resiliência. Jéssica encontrou parte desse apoio no Núcleo de Atendimento Educacional Especializado ao Aluno de Espectro Autista (NAETEA), onde Enzo recebe cuidados e suporte para o desenvolvimento.
“Ele está aqui no NAETEA desde que inaugurou e está muito bom. Aqui ele tem apoio, desenvolveu bastante a aprendizagem dele. Ele ainda não é alfabetizado, mas tem melhorado muito. Ele tem trabalhado bastante isso, já está começando a reconhecer a letra, as coisas que ele ainda não sabia”, conta a mamãe.
“Ele é o meu maior companheiro”, sorri Jéssica, expressando o profundo vínculo que compartilha com seu filho. Ela compartilha que uma das grandes dificuldades é encontrar lugares para sair com a criança e conta que “Te Amo Muito Lugar” é uma das frases mais pronunciadas pelo filho, tanto que tornou-se uma tatuagem.
“É desafiador ser mãe. Há lugares que não consigo ir porque ele tem intolerância ao barulho. Ele quer deitar, fica difícil sair para alguns lugares. Mas é maravilhoso também porque é um ser único. Eu já era mais ‘na minha’ e agora estamos sempre juntos, abraçados. Ele é muito carinhoso. Fala que me ama. Ele fala ‘Te amo muito lugar’ o tempo todo, fala tanto, mas tanto que fiz até tatuagem. Tem os desafios, para comer, o barulho, mas tudo damos um jeito com amor”, garante.
Para outras mães que enfrentam desafios semelhantes ou que estão apenas começando sua jornada na maternidade, Jéssica tem uma mensagem de esperança e encorajamento. “No começo, pode parecer assustador, mas o amor que você sente por seu filho é imenso e único. Vale a pena, com certeza”.
Ela destaca também a importância do apoio da comunidade e da compreensão em relação às necessidades das crianças especiais. “Peço por mais empatia e menos julgamento. Tem muita gente que olha achando que é birra, que a mãe não educou, que a criança é mimada. Então a gente tem que aprender e entender antes de julgar. E principalmente respeitar”.
A história de Jéssica e Enzo é um testemunho do poder do amor materno e da resiliência diante das adversidades. Enzo enfrenta desafios únicos, mas com o apoio amoroso de sua mãe, do poder público e das pessoas ao seu redor pode crescer trazendo novas reflexões, sentimentos e conhecimento para Jéssica e as demais pessoas ao seu redor.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Sara Lopes