Educação: Projeto “Me Vejo Bela”, do CAP, empodera mulheres com deficiência visual
As mulheres do Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual (CAP-DV) participaram, esta semana, de mais um grande projeto de inclusão realizado pelo órgão: o projeto “Me Vejo Bela” busca ensinar as mulheres cegas ou com baixa visão a se maquiarem e se arrumarem.
A ideia surgiu da percepção da professora Lucilene Silva, que dá aula de Atividades de Vida Autônoma para os alunos do CAP. Ela identificou a necessidade de elevar a autoestima das alunas que expressaram a vontade de aprender a se maquiar. “Nós observamos essa vontade, falamos com elas, fomos em busca de parceria, bolamos um cronograma, preparamos um material e vamos disponibilizar essas aulas para elas aqui no CAP”, explica Lucilene.
Os encontros acontecerão uma vez por mês, indo de maio até novembro. Atualmente, 15 alunas participam da iniciativa. “Por ser um projeto piloto, começa com um curso de automaquiagem, posteriormente queremos avançar para que seja um curso mais especializado, a depender do desenvolvimento das alunas”, explica a assistente social do CAP, Judith Almeida.
O término do projeto será no final de novembro, em data ainda indefinida. “Até lá, elas já vão ter passado por várias etapas. Se desenvolvendo e faremos uma ação bem legal, junto com outras do órgão, para comemorar essa data e a inclusão do curso”, complementa a professora de alfabetização Braile, Alessandra Muniz.
Nara Pinheiro, responsável por ministrar as aulas de automaquiagem, expressou a emoção e determinação em enfrentar o desafio de ensinar mulheres com deficiência visual. Ela enfatizou a importância de proporcionar às alunas, a oportunidade de se sentirem bonitas e confiantes, independentemente da condição visual.
“Eu recebi como um grande desafio ensinar meninas com deficiência visual a se maquiarem. Eu nunca tinha tido contato com esse formato de trabalho. É um desafio para mim. Eu sei que elas estão com expectativas elevadas, eu também estou. Sei o quanto para uma mulher é importante se sentir bem, se sentir bela, independente da sua condição”, comenta.
Ela pontua ainda que as aulas terão uma dinâmica diferente focada no tato para que as alunas identifiquem as áreas do rosto e produtos. “Eu sei que para elas o tato é muito importante, então a gente vai trabalhar muita repetição de elas tocarem o rosto, de elas entenderem cada parte do rosto delas, onde elas vão aplicar cada produto. Cada uma vai ter o seu tempo, a sua velocidade para fazer isso e elas vão repetir o processo algumas vezes. A repetição para tudo na vida é o que vai trazer a segurança para elas ficarem mais experientes na maquiagem para qualquer ocasião, seja ir na esquina, seja uma festa ou casamento”, comenta a maquiadora e diretora de vendas de produtos cosméticos da empresa Mary Kay.
Para ajudar as alunas nesse processo, os materiais utilizados estão sendo adaptados para para atender às necessidades específicas das alunas cegas, garantindo que pudessem identificar e utilizar os produtos de forma independente, conforme explica o mestre de produção de material especializado, Marcio Ribeiro.
“Nós temos aqui no CAP, a sala de produção de materiais tridimensionais, adaptação de material em papel, adaptação de material em plástico e também temos uma adaptação específica para o material em braile. O intuito é que a pessoa cega, nesse caso aí, que são para as mulheres que estão no projeto, possa identificar quais recursos e o que elas vão querer para a sua beleza, sem precisar da ajuda de ninguém”, acrescenta o professor.
As alunas Maria Francisco dos Santos e a Ângela Maria Araújo dos Santos compartilharam a gratidão pela oportunidade de aprender e se sentirem bonitas, destacando como a maquiagem pode ser uma forma de expressão e empoderamento pessoal.
A Maria Francisco tem 58 anos e ficou cega aos 40 anos. “Olha, eu vejo como muito importante esse projeto para nós mulheres cegas, porque ao contrário de que muita gente pensa que junto com a visão também se vai a nossa vaidade, isso não é verdade. Nós somos mulheres cegas, porém vaidosas. Não é como a gente se vê, mas é como a gente se sente. Eu já me vejo bela, mas eu posso melhorar sempre. Então, uma maquiagemzinha ajuda bastante”, opina.
Já Ângela Maria, de 23 anos, tem cegueira total e congênita. Ela conta que aprendeu com a mãe a se cuidar e agora está feliz com a oportunidade do curso. “Uma coisa maravilhosa poder participar de um projeto assim, porque reflete exatamente os 20 anos do CAP e como nós devemos mostrar pra sociedade que não é porque somos cegas que nós somos impedidas, né?! Não é a cegueira que nos impede de viver, de nos arrumarmos, de nos sentirmos lindas. Desde criança, minha mãe me ensinou a ser vaidosa, me ensinou a pintar as unhas. Então, cresci e descobri a beleza que a gente pode buscar por meio da maquiagem também”, complementa.
Outras fotos:
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Sara Lopes