Meio Ambiente: Semma auxilia projeto que devolve mais de 30 mil quelônios aos rios
“O projeto é de cunho preservacionista e vem contribuir com o Meio Ambiente aquático do Rio Tocantins e seus afluentes, principalmente aqui no Município de Marabá, aumentando o povoamento da espécie”, afirma Rubens Sampaio, secretário municipal de Meio Ambiente
Termina na próxima quinta-feira (4), a etapa de soltura do Projeto Quelônios dos Rios Tocantins e Itacaiunas, que iniciou dia 28 de fevereiro e deve devolver para natureza cerca 30 mil filhotes de quelônios de rio doce, das espécies tracajá e tartaruga da Amazônia.
O Projeto Quelônios dos Rios Tocantins e Itacaiunas trabalha duas vertentes principais: o manejo reprodutivo dos quelônios e a educação ambiental das comunidades ribeirinhas, a fim de minimizar a caça clandestina ao animal, que já esteve na lista de espécies em extinção, através de projetos nas escolas da comunidade do Carrapato, por meio de conversas e palestras. Além de abordagens com apoio da Guarda Municipal de Marabá e fiscais da Semma, agindo de forma direta na fiscalização.
O agrônomo Juscelino Bezerra de Souza, coordenador técnico científico do Projeto Quelônios dos Rios Tocantins e Itacaiunas, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), explica que o manejo reprodutivo consiste na coleta dos ninhos no período das desovas das espécies, realocando-os em um ambiente protegido, tendo acompanhamento no processo de encubação e eclosão dos ovos, alocação dos filhotes em berçários e ainda alimentação dos filhotes, até que atinjam um desenvolvimento que lhe permitam driblar uma parcela dos predadores no ambiente natural.
“Iniciamos o trabalho do manejo reprodutivo no mês de julho e início de agosto, quando começa a espécie de tracajá fazendo a desova, todo o trecho que vai da Praia do Tucunaré até a Praia do Macaco em Itupiranga, realizamos a coleta. Esse período é diário e constante, são várias abordagens com ribeirinhos, pescadores, veranistas que ficam nas praias, todo o processo de educação ambiental, como a recomendação de não andar a noite na praia, para não atrapalhar o processo de desova das fêmeas matrizes, evitar a captura, uma vez que é cultural na Amazônia a alimentação tanto dos ovos como dos animais jovens e adultos dessas espécies”, destaca Juscelino Bezerra Souza.
A equipe tem o cuidado de soltar os quelônios nos mesmos locais de coletas de ovos, agora com a cheia há uma diminuição da pressão dos predadores, portanto o período escolhido, onde contém mais esconderijo de vegetações, no verão seu habitat acaba virando um deserto subaquático. “É um animal que já esteve em ameaça de extinção, e hoje consta na lista de risco de animais em extinção, por conta dessa pressão de predação muito grande. Uma iguaria no mercado regional e nacional presente nos melhores restaurantes, parcela dessa iguaria provém do contrabando e caça ilegal”, relata o agrônomo.
O secretário municipal de Meio Ambiente Rubens Sampaio destaca que o resultado do projeto é muito positivo, milhares de filhotes de tartaruga devolvidos para o Rio Tocantins ao longo de 3 anos. “O projeto é de cunho preservacionista e vem contribuir com o Meio Ambiente aquático do Rio Tocantins e seus afluentes, principalmente aqui no Município de Marabá, aumentando o povoamento da espécie e assim diminuindo os riscos de extinção das tartarugas e tracajás na lista de nossa fauna aqui na região, já que esses animais vêm sendo pescados e caçados de forma criminosa por algumas pessoas”, lembra o secretário.
O projeto tem três grandes metas, educação ambiental, restabelecimento da população das espécies e em um futuro próximo estabelecer a forma de criação comercial legalizada das espécies, a fim de diminuir a predação que existe hoje. Além do manejo, há o monitoramento de população dos quelônios, durante o ano todo, contabiliza-se o quantitativo de animais na natureza e a noção da estrutura populacional.
O projeto iniciou em julho de 2017, onde a primeira coleta contabilizou 340 ninhos de tracajás, mais cerca de 200 ninhos de tartarugas. Essa coleta resultou na soltura de 14 mil filhotes das duas espécies. “Esse ano conseguimos o nascimento de 32 mil filhotes das espécies, números significativos”, comemora o agrônomo.
Repercussão
O lavrador Félix de Oliveira, de 68 anos, mora há cerca de 20 anos na região da Praia do Meio, município de Nova Ipixuna, ele recepciona muito bem os participantes do projeto Quelônios dos Rios Tocantins e Itacaiunas. “Desde a primeira campanha que fizeram para pegar os quelônios sempre estou ajudando de um modo ou de outro. É muito bom esse projeto, porque vai preservar, antes já estavam em pouco número, já quase em extinção, agora vai melhorar muito. Acompanhei e vi que o trabalho deu frutos, hoje a gente já vê muitos [quelônios] boiando e até em cima dos paus na beira do rio, eles já grandes. É isso é muito bom”, disse.
Tracajá ou tartaruga?
Talvez você já deve ter se perguntado qual a diferença entre o tracajá e tartaruga. Ambas espécies pertencem ao mesmo gênero, a tracajá Podocnemis unifilis e tartaruga Podocnemis expansa. A diferença fundamental que existe entre elas é o apêndice que possuem no queixo, o tracajá possui um e a tartaruga tem dois, também chamados de barbicha. A tartaruga da Amazônia atinge até 1,05 de comprimento de carapaça e pesa até 75 kg quando chega à fase adulta, no caso do tracajá mede entre 30 a 40 cm e pesa até 8 kg.
Parceiros
O Projeto Quelônios dos Rios Tocantins e Itacaiunas tem apoio da Prefeitura de Marabá, tendo a Semma (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) como representante, Comam (Conselho Municipal de Meio Ambiente), Guarda Municipal de Marabá, Instituto da Guarda Ambiental e Força Especial (IGAFE), Serviço de Saneamento Ambiental (SSAM), Unifesspa, Ministério Público Estadual, Exército, Polícia Militar, Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará- Ideflor. A Semma e o Comam dão todo o aporte estrutural, com recursos da Prefeitura e do Fundo Municipal de Meio Ambiente – FMA.
Veja outras fotos:
Texto: Emilly Coelho
Fotos: Aline Nascimento