Secult: Escritora Lusa Silva lança “O Nascimento do Saci-Pererê”, o primeiro livro solo de uma coleção de cordéis
Lusinete Bezerra da Silva, 65 anos, nasceu no interior da Paraíba, no município de Cacimba da Areia e é formada em Letras e Filosofia. Aos 10 anos, morando na cidade de Natal, Cacimba de Areia (Pb) que gostava de ouvir seu pai ler e cantar cordéis e considera que foi alfabetizada por ele. Mais conhecida como Lusa Silva, em 1993 passou de trem por Marabá e decidiu mudar com o marido para cá.
Desde então, é professora da Rede Municipal de Ensino em Marabá e já lançou diversos livros em parceria com os alunos e individualmente. Neste sábado, a poeta lançará o primeiro livro solo, após a pandemia. O Nascimento do Saci-Pererê é o primeiro livro a ser lançado da coleção “Os Cordéis de Lusinete”, que possui o mesmo nome de seu blog. O lançamento será feito sábado (20), às 19h, na Biblioteca Orlando Lima Lobo.
Apesar de ler e acompanhar a literatura de cordel desde cedo, a vida como escritora só começou depois dos 40 anos. “Na verdade, começou quando me reaproximei do cordel, trocando livros com um professor da escola, eu também era fã. Dalí comecei a brincar de fazer cordel e me incentivaram a trabalhar o cordel como projeto na escola, foi quando tudo começou de vez”, conta a poeta.
O incentivo para voltar a fazer o que mais gosta, escrever cordéis, veio a pedido de outros professores que pretendem utilizar o material em sala de aula. “Eu estou cheia de expectativa, estou bastante feliz porque eu sei que eu estou produzindo material, estou contribuindo com a classe estudantil, porque eu escrevo, eu faço tudo isso, pensando nos alunos e nos professores”, comenta.
Ela ressalta que sempre escreveu para si, mas que tinha vontade de lançar livros, mas que, além do pai, deve isso também a rede de ensino de Marabá, onde leciona há mais de 20 anos. “Eu acho que se eu não tivesse nesse meio, talvez eu não escrevesse. Comecei a fazer livros com os alunos. E vejo que os professores trabalham esse livro. Fico bastante feliz”, declara.
A coleção dos Cordeis de Lusinete já tem cinco livros escritos. Cada um deles tem a apresentações e prefácios feitos por algum colega de profissão, professor do município. O segundo a ser lançado já está previsto para maio e será sobre o João de Barro. “Faço questão que cada livro tenha uma fala e uma foto desses professores que me ajudam e incentivam. Porca de Bobs, Matinta Pereira e Curupira também já estão escritos, mas ainda virão outros, quero voltar a escrever e compensar o tempo que estive parada. Não sei quantos serão no total”, conta a autora.
O primeiro livro que escreveu solo foi “Cordel – Um Recurso Pedagógico”, lançado em 2014. “O cordel é atraente na sala de aula. Quando os alunos estão danados e quero chamar atenção deles, eu declamo a poesia e eles param. Apresento algumas oficinas nas escolas e eles acham o máximo, gostam, respeitam, acho muito legal e importante ter algo que atrai o aluno. Hoje em dia não é fácil”, brinca.
Na sequência a autora lançou “Proeza Poética” e “Mix de Poesia”. A poetisa revela que por volta do ano 2000 iniciou os primeiros projetos desenvolvidos com os alunos.
No ano de 2022, na Escola Paulo Freire, participou de um projeto nacional e que havia uma premiação regional para os alunos. No projeto ‘Brasil duzentos anos, lendo nossa história e escrevendo o nosso futuro‘. Foram escolhidos 12 alunos que escreveram as poesias. A primeira colocação no Norte ficou com o aluno de Marabá, Kauan Pablo Soares Carneiro, e é motivo de orgulho até hoje para Lusa.
“Eu prometi para eles que todos que participassem teriam o poema publicado na antologia. Foi publicado o livro ‘Antologia da Independência. Escola Paulo Freire’. Escolhemos o melhor e mandamos. Nós fomos para Brasília receber o prêmio. Então, foi assim uma coisa que me deixou mais orgulhosa. Orgulhosa de trabalhar na escola pública e fazer os alunos se interessarem por literatura”, destaca, esclarecendo ainda que o texto está nos livros didáticos de português espalhados por todo país.
“Meu aluno, o meu aluno, minha escola. O aluno da escola Professor Paulo Freire, um dos alunos que está nessa antologia aqui, ele foi o melhor do Brasil. E o texto dele está quarta capa dos livros circulando por todo país. Eu sou feliz por isso. Eu sou grata pelo dom que Deus me deu, por eu ter essa capacidade de pegar uma história e contar ela em cordel”, desabafa.
Em sala de aula, já desenvolveu também duas revistas com os alunos e conta que esse ano será lançado, no Dia D da Família na Escola, a terceira revistinha com os alunos desenvolvendo um trabalho sobre Fake News. “Vai sair no mesmo formato das outras duas. Vamos virar a noite para deixar tudo pronto, mas quero que seja lançado. Eles gostam e é importante trabalhar e incentivar isso’, pontua a professora. O último livro a ser lançado com os alunos foi feito pela Estante Mágica, com o nome de “O Pequeno Davi”.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Aline Nascimento