Secult: Biblioteca homenageia artista marabaense Marcílio Caldas Costa
A Programação on-line da Biblioteca Orlando Lima Lobo de julho continua dedicada especialmente aos escritores locais. Na semana passada foram abordados os escritores paraenses em geral e nessa semana o foco é em Marcílio Caldas Costa, de 44 anos, artista marabaense que trabalha com poesia e artes visuais.
A biblioteca tem postado obras do autor diariamente desde o dia 20. Você já pode acompanhar o videopoema Maioridade em Memória, que retrata a morte dos 21 agricultores no Massacre de Eldorado de Carajás, o vídeopoema Crescemos e o curta-metragem Muragens – Crônicas de Muro.
No encerramento da semana, dia 25, às 17h, Marcílio e o professor Clei Sousa farão uma live para debater sobre a poesia e linguagem utilizada pelo autor. A atração pode ser acompanhada pela página do Facebook da Secretaria de Cultura (Secult). “O Professor Clei fez um estudo sobre o meu trabalho e a interseção que eu faço sobre a linguagem. Ele busca estudar exatamente essa relação entre palavra e imagem. Falaremos sobre os trabalhos, as pesquisas, as obras e, claro, lerei alguns poemas, sou, antes de tudo, um poeta”, comenta Marcílio.
Semana dos Escritores Paraenses
O autor, que reside em Belém, também comentou sobre a repercussão que a Semana dos Escritores Paraenses, promovida pela Biblioteca, teve por lá. “Foi uma repercussão muito interessante. Percebemos uma reverberação positiva principalmente porque quem mora na capital acaba sendo o centro das atenções e isso é injusto. Temos um panorama maior e mais aprofundado no Estado. As lives, leituras, foram uma vitrine até mesmo para que os artistas daqui conhecessem os de outras regiões”, acrescentou.
Além de inúmeros vídeos falando sobre a trajetória literária de Marabá, clássicos paraenses, panoramas de mercado da região, entre outros temas a Semana do Escritor Paraense da Biblioteca (13 a 18) contou com a Live das Mulheres Paraenses que se dedicam a escrita poética.
“Foi um sucesso, reunimos escritores de vários locais do Pará. A live foi maravilhosa, composta por escritoras que moram em Barcarena, Belém, Rio de Janeiro. Essa aproximação está sendo muito louvável e acrescentando vários conhecimentos. Também todo percurso da literatura paraense, levantados através de vídeos e depoimentos. Isso tudo é um acervo muito rico. Para professores, estudantes apreciadores”, comentou Evilângela Lima, coordenadora da Biblioteca Municipal.
No fim do mês, a programação ainda irá conter um Caderno de Receitas. Terá receitas veganas, com Layla Sampaio (27), receitas regionais com o Chef Guilherme Moreira (29), produção de doce com a Claudia Borges (30) e gastronomia e técnicas para cozinha em geral com a Chef Juceane Chaves. Além da programação temática semanal, todas as sextas-feiras são postados vídeos ensinando a arte do origami, com o brinquedista Kaio Coelho. Aos domingos são postadas contações de histórias.
Semana Marcílio Caldas Costa
O autor tem uma relação com a literatura e a poesia desde os nove anos de idade. “Já escrevia, mas não podia afirmar que era literatura e poesia. Gostava muito de desenhar e de pintar. Tinha habilidade para isso. Sempre fui um garoto muito isolado e a literatura e a arte sempre foram minhas melhores companhias”, comenta Marcílio.
Na adolescência em nossa cidade, tinha costume de frequentar as bibliotecas públicas. “Foi um espaço importantíssimo para mim. Tanto a Biblioteca da Casa da Cultura, quanto a da Universidade, que frequentava mesmo sem ser aluno. Essa curiosidade e estimulo também foram provocados pela presença de meu pai, que também trabalha com arte”, revela.
Ele se formou em Artes Visuais pela UFPA, em Belém, na época em que não existia o curso em nossa cidade. Foi onde produziu, junto com os amigos do curso, seu primeiro audiovisual. Chamado Canto Gregoriano, se referindo ao poeta português Gregório de Matos. “A imagem sempre foi muito presente. Isso flui em mim, se dá de uma maneira muito natural. Mas antes de tudo sou um poeta, sempre partindo da palavra poesia enquanto elemento detonador dos meus trabalhos em artes visuais”, conta.
Sua primeira publicação em livro foi em Marabá. Nos anos 90 participou de um festival de poesia, conto e fotografia promovido pela Secult. No primeiro ano foram dois poemas selecionados. No ano seguinte ganhou o festival com o poema Saga ou Amor Sobre a Mesa.
Entre as obras do autor se destacam um trabalho chamado Planfetarium Carbono, de 2009, em parceria com o artista visual Ednaldo Brito. “Foi um trabalho apresentado no Fórum Social Mundial, pensada e construída para gerar impacto nas pessoas. A obra foi a ação que ocorreu no dia, ver a ação e reflexão das pessoas, o que mudou na relação delas. Uma obra com viés político e ambiental”, comenta.
Em 2011 a obra chamada Memória de Bolso contra o Sono do Sangue, fez alusão ao massacre do Eldorado de Carajás. “No dia 17 de abril distribuímos calendários. Quando a pessoa via, todos os dias no calendário eram dia 17 de abril, referendando e acentuado uma data que não deve ser esquecida. A arte está na reação das pessoas, na reflexão delas. Muitas nem notaram isso quando demos o calendário, só devem ter visto depois. Esse é o impacto da arte”, explica.
Em 2015 participou de uma exposição audiovisual “Entre o Rumor e o Silêncio”, exposta no Curcuito Galeria, promovida pela Portal da TV Cultura. O artista já participou de quatro edições do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. Em 2010 foi selecionado pelo projeto Bolsa Funarte de Criação Literária, que distribuiu 10 bolsas, durante 9 meses, para artistas de todo Brasil. Trabalho sobre pesquisa poética com proposta de escrever poemas, adaptações e experiências sobre as ilhas de Belém.
É autor do livro Celina (2008), Depois da Sede (2013) deve lançar outra obra ainda este ano. Trabalha como editor de livros de claquete, pequenas publicações, que têm como caraterísticas o número de páginas e tiragens reduzidas com caráter mais pontual e eventual.
Em 2017 produziu a animação Pedaços de Pássaros (2017), resultado de um edital vencedor pelo Ministério da Cultura, o curta retrata uma alegoria do nosso tempo em relação à natureza, ao outro, à vida em sociedade e ao próprio cotidiano. O vídeo será postado nas redes sociais da Secult.
“Esse espaço aberto pela biblioteca, através da Secult, proporciona aquilo que deve ser assumido enquanto inciativa importantíssima e fundamental da gestão pública, que é criar meios do povo e das pessoas terem acesso a produção de bens culturais. Um trabalho que se coloca dentro desse grande livro, que é a produção artística cultural da região. Fico feliz de fazer parte dessa obra. Que continuem, não faltam autores para preencher isso”, conclui.
Acompanhe a programação completa da Biblioteca
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Arquivo